A grande gravura apresentada ao lado guarda uma história curiosa sobre o seu autor, o lendário Iberê Camargo (1914-1994). No início da década de 70, o artista gaúcho da pequena cidade de Restinga Seca foi convidado pelo Banco do Brasil para desenhar uma gravura ao lado de outros 14 artistas – alguns que já tinham sido seus alunos. ‘O Iberê disse que não iria fazer porque não tinha prensa”, diz Luiz Geraldo Dolino, então funcionário da instituição financeira. “Combinamos que compraríamos uma prensa como pagamento e ele aceitou”. O acordo, visando estritamente a arte, mudou todos os conceitos que norteiam a criação de um relatório anual de uma empresa. Motivo: a criação de Iberê e de outros artistas como Anna Bella Geiger, Edith Behring e Newton Cavalcanti foram usadas no relatório anual de 1972 do Banco do Brasil. ‘Antes, todas as empresas apresentavam um calhamaço de números’, diz Dolino. “Naquele ano, lançamos um relatório em forma de revista, de fácil leitura e com as gravuras de artistas de várias correntes e de todas as regiões do País”, diz Dolino. Para comemorar os 35 anos do balanço financeiro que quebrou todos os paradigmas, o Banco do Brasil organizou uma exposição que começou dia 25 de fevereiro e vai até 26 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Mais do que mostrar a criação de grandes artistas, a exposição revela como a idéia de transformar a frieza dos números em informações palatáveis revolucionou o modo de lidar com o público. “Na época, o Banco do Brasil tinha acabado de mudar o logotipo e partíamos para o exterior”, diz Dolino. “Precisávamos mostrar modernidade.” E conseguiram. O relatório foi consagrado pela Associação Brasileira de Críticos de Arte e também pela American Society como exemplo de publicação financeira. A moda pegou e hoje quase todas as empresas que publicam os seus relatórios anuais fazem dessa ferramenta uma maneira de se apresentar e, de certa forma, refletem o modo como agem no mundo corporativo. Nos últimos anos, além da beleza gráfica, o que tem norteado as publicações é a questão do meio-ambiente e do crescimento sustentável. O banco Real, por exemplo, faz do relatório anual de sustentabilidade editado em papal reciclado um veículo de discussões para os funcionários do banco e seus clientes. “Além das informações financeiras obrigatórias, trazemos matérias analíticas”, diz Carlos Nomoto, superintendente de desenvolvimento sustentável do banco Real. “Nelas, refletimos sobre o processo de mudança pelo qual a instituição tem passado.” A Natura, uma das precursoras do desenvolvimento sustentável no seu dia-a-dia, apresenta o relatório como se fosse o seu espelho. A publicação, em papel reciclado e recheada de fotos que mostram paisagens ecológicas, mostra a que veio logo na primeira página onde se lê a seguinte frase: “Nossa razão de Ser é criar e comercializar produtos e serviços que promovam o bem-estar/estar-bem”. Uma forma sutil de dizer que o lucro é importante, mas sem agredir o consumidor e o meio-ambiente.