O gaúcho Lírio Albino Parisotto passou os últimos 19 anos envolvido na tarefa de transformar a Videolar, uma pequena loja de eletrodomésticos em Caxias do Sul (RS), em uma potência do segmento de entretenimento.

Hoje, ele comanda um conglomerado industrial formado por seis plantas industriais (quatro no Brasil e duas na Argentina) de onde saem DVD, CD, disquete e fita cassete das marcas Nipponic e Emtec, além de embalagens plásticas. Lá também são feitas reproduções de CDs e DVDs para gravadoras e estúdios de cinema. Este portfólio garante uma receita anual de R$ 1,4 bilhão. Aos 53 anos, no entanto, o empresário decidiu que é hora de parar. Em 1º de janeiro de 2008 ele passa o comando para o sócio Felipe Wojdyslawski, detentor de 20% das ações da Videolar. Amante de vinhos, charuto cubano e obras de artes de Picasso e Di Cavalcanti, Parisotto diz que sairá de cena para dedicar mais tempo aos investimentos pessoais. São participações em companhias do porte de Braskem, Eternit e Bradespar. “Chegou a hora de desfrutar um pouco mais de tudo que eu construí”, justifica.

R$ 110 milhões é quanto a empresa está investindo na fábrica de Manaus

Na prática, no entanto, ele está muito longe de “pendurar a gravata”. Afinal, Parisotto integra o rol de empreendedores natos como Abraham Kasinski e Eugênio Staub, aqueles que, de noite, anunciam a aposentadoria e, na manhã seguinte, começam um novo empreendimento. Pois, entre uma taça de bordeaux e uma baforada de puro, Parisotto pretende buscar novas oportunidades de negócios. O primeiro alvo é o setor petroquímico. A empresa já fabrica 150 mil toneladas por ano de poliestireno e polipropileno em Manaus (AM), responsáveis por 30% das vendas da Videolar. Os compostos servem de matéria-prima para gabinetes de equipamentos de som, copos plásticos e canetas, por exemplo. A ambição de Parisotto é fazer da unidade o embrião do pólo petroquímico da Zona Franca de Manaus. Para isso, ele está disposto a associar-se a investidores daqui ou do Exterior.

“Se ninguém topar, banco tudo sozinho”, diz.

” Chegou a hora de desfrutar um pouco melhor das coisas que construí”

Essa opção não é fruto do acaso. O mercado de resinas segue aquecido e deve crescer 8% neste ano, atingindo US$ 20 bilhões. O projeto de Parisotto conta com a bênção do governo local. Energia não vai faltar. No segundo semestre, entra em operação o gasoduto Urucum-Manaus. “A petroquímica não é uma ameaça ao ecossistema”, sustenta Virgílio Maurício Viana, secretário de meio ambiente do Amazonas. Ele diz que a utilização do gás reduzirá, de imediato, em 30% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa.

A decisão de Parisotto também embute o temor em relação ao futuro da indústria de entretenimento. Hoje, o comércio de CD e DVD responde por quase 70% das receitas da companhia. O problema é que a pirataria e o contrabando estão reduzindo o mercado formal. Apesar disso, ele se recusa a entregar os pontos. Prova disso é que está concluindo um aporte de R$ 110 milhões na ampliação da linha de mídias virgens para 40 milhões unidades por mês. Ao que parece, a aposentadoria de Parisotto não é mesmo para valer.