Ao tomar o ônibus para ir ao trabalho na quinta-feira 3, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, deu um belo exemplo de como os governantes deveriam se comportar com os serviços públicos: usando-os pessoalmente. Seus críticos poderiam dizer que tudo não passou de um demagógico golpe de marketing, já que o gesto humaniza a figura de um alcaide que está propondo o aumento do IPTU para custear o subsídio ao transporte municipal, pouco tempo depois de atender aos gritos das ruas e abrir mão do tal aumento de R$ 0,20 nas passagens. Mas isso não tira o mérito da questão: é bom que o prefeito da maior concentração urbana do País em todos os aspectos (população, abundância de recursos e de problemas, etc.) sinta na pele a qualidade dos serviços que gerencia. 

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Mesmo que não tenha sido na infernal hora do rush, quando o nível de sofrimento dos passageiros é brutal, a primeira viagem de Haddad é inspiradora. Em Londres, o prefeito e os vereadores ganham vale-transporte, em vez de carro oficial. Se os políticos brasileiros e seus filhos utilizassem exclusivamente as redes públicas de transporte, de saúde e de ensino, quem sabe esses serviços teriam melhor qualidade no Brasil. Em poucos anos, os impactos econômicos dessa melhoria seriam sentidos em toda a sociedade, com a formação de estudantes mais capacitados e mais saudáveis para o mercado de trabalho e de consumo. Enquanto a massa trabalhadora for mal- tratada diariamente nos ônibus, trens e hospitais públicos, as empresas que movem a economia perderão bilhões em absenteísmo e baixa produtividade. 

 

 

Enquanto as crianças das escolas públicas receberem um ensino básico ruim, que as leva a frequentar universidades privadas de acesso fácil, mensalidade barata e eficiência duvidosa, as empresas terão de gastar bilhões em capacitação profissional, sem nunca atingir os níveis de produtividade de seus competidores em países que valorizam a educação desde cedo. Enquanto as famílias de classe média e alta tiverem de pagar dobrado para viver (além dos impostos que custeiam serviços públicos que não usam, arcam com transporte individual e mensalidades de escolas e de planos de saúde privados), terão seu poder de poupança reduzido. País sem poupança interna robusta é país com investimento baixo e dependente de voláteis capitais externos. O Brasil mudou de patamar nos últimos anos e ainda é um dos principais mercados emergentes do planeta, mas precisa acelerar essa transformação para virar um país desenvolvido. A breve aula do professor Haddad, ex-ministro da Educação, deve ser aprendida pelos demais governantes Brasil afora.