Os investidores na empresa de comércio eletrônico B2W conhecem, como poucos, o significado da palavra volatilidade. A companhia surgiu em dezembro de 2006, fruto da fusão entre duas lojas virtuais, a Americanas.com e a Submarino, e abriu seu capital em agosto de 2007. Desde então, suas ações atravessaram ondas de euforia e depressões abissais, que se sucediam como uma assustadora montanha-russa. Em seu pior momento, em julho de 2012, os papéis chegaram a amargar uma queda de 92% em relação ao valor do lançamento.

No início deste ano, parecia que nada iria impedir o naufrágio, mas, em fevereiro, uma boia de salvamento foi lançada. Aliados, a 3G Capital, do empresário Jorge Paulo Lemann, e o fundo americano Tiger Global anunciaram a injeção de R$ 2,3 bilhões na companhia. Desse total, a 3G, que tem como sócios os parceiros de sempre Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, aportará R$ 1 bilhão e os americanos, o restante. Foi o que bastou para fazer as ações voltarem à tona.

Nos 12 meses até 30 de junho, a alta acumulada foi de 376%, tornando esses papéis os de melhor desempenho no período. Ainda vale a pena fazer como Lemann e seus sócios e embarcar no submarino? Quem conhece o setor afirma que sim. Pedro Guasti, da consultoria paulista e-Bit, especializada em comércio eletrônico, avalia que o avanço das ações é resultado de uma reestruturação que começou no ano passado. O que quase fez a empresa adernar foram problemas de logística, que ficaram evidentes no fim de 2011. Incapaz de entregar em tempo tudo o que vendeu por meio de seu site, a B2W azedou o Natal de alguns milhares de lares brasileiros.

“Naquele momento, a B2W não dava a atenção necessária à satisfação do cliente”, diz Guasti. Os problemas foram tão sérios que, no dia 15 de março de 2012, o Procon paulista multou a B2W em R$ 1,7 milhão e a proibiu de vender qualquer item no Estado por 72 horas. A situação começou a mudar em maio do ano passado, quando a B2W, que também controla o Shoptime, adquiriu empresas de tecnologia especializadas na gestão de processos e no atendimento ao cliente, como Click Rodo, Uniconsult, Ideais Tecnologia e Tarkena.

Em agosto, Fábio Abrate, diretor de relações com investidores da B2W, anunciou investimentos de R$ 1 bilhão na logística. “Nosso foco com esses investimentos é melhorar o atendimento ao cliente”, disse Abrate ao divulgar os resultados do primeiro semestre de 2013. Parte desse dinheiro foi destinado para a construção de dez novos centros de distribuição. Três deles – em São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais – já foram concluídos e os demais deverão começar a funcionar até o fim de 2015. Mais R$ 127 milhões foram investidos na compra da Direct Express, empresa especializada na entrega de encomendas de pequeno porte, adquirida do grupo Tegma.

Para os analistas, essas mudanças e o aporte de recursos foram suficientes para corrigir a rota. “O dinheiro novo vai ajudar a empresa a reduzir sua dívida e a tornar a operação mais eficiente”, diz Isis Amorim, analista da corretora Ativa. Fernando Araújo, da FCL Capital, diz que a reformulação deve beneficiar os preços nos próximos meses. “As ações deixaram de ser classificadas como papéis de uma empresa que poderia falir a qualquer momento”, diz ele. A receita cresceu para R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre, uma alta de 30%, e o prejuízo encolheu 5,6%, de R$ 61 milhões para R$ 57,6 milhões.

Outra vantagem é que o segmento da B2W está em franca expansão. Segundo Guasti, da e-Bit, o comércio eletrônico cresceu 30% em 2013, tendo movimentado R$ 28,8 bilhões, e essa cifra deve avançar mais 25% neste ano. Para o investidor, a única concorrente da B2W listada em bolsa é a Via Varejo, do Grupo Pão de Açúcar, que controla a Nova Pontocom. “As maiores empresas do setor se convenceram de que a única forma de se diferenciar nesse segmento é ter maior controle dos departamentos de logística e atendimento ao cliente”, diz Guasti.

A B2W tem boas condições de surfar nessa onda, especialmente depois de ter apostado na independência logística. No entanto, ela não está só nesse caminho, que vem sendo adotado por outros grandes participantes do mercado, como Dafiti, Netshoes e Walmart, além do grupo argentino Mercado Libre. “Os esforços da B2W são convincentes, porém, devemos ficar atentos para uma reação de possíveis concorrentes”, diz Robert Aguilar, analista do Bank of America Merrill Lynch.