São cada vez mais frequentes os sinais do mercado financeiro não de apoio ao candidato petista na corrida presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva, mas, ao menos, de conformismo com a possibilidade de ele realmente vencer a eleição. A última das eloquentes avaliações nesse sentido partiu de ninguém menos que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em uma entrevista na Globonews, dias atrás, o titular do Banco, perguntado se uma eventual vitória de Lula já estaria “precificada”, sem risco de maiores turbulências, apontou que sim. Que o mercado parece menos receoso e que tem acontecido, mais recentemente, o que ele chama de uma “eliminação de vários preços que mostram risco da passagem de um governo para o outro”.

E reiterou: “a gente vê, quando olha esses preços, que eles atenuaram. Significa que o mercado passou a ser menos receoso”. Não é uma interpretação isolada, muito menos descolada da realidade. Antes mesmo de Campos, o investidor Luis Stuhlberger, um dos grandes da praça, que comanda a Verde Asset Management, apontou que Lula é mais digerível, que não representa tanto o bicho papão de outros tempos até por que, como aponta a carta aos investidores emitida pelo seu grupo, “em praticamente todas as áreas de atuação o que se viu do atual governo foi um desastre”. Em outras palavras, a banca encara Bolsonaro efetivamente como o responsável por empurrar Lula à condição de preferido, no caso de uma disputa polarizada entre os dois. Não há como desconsiderar, o mercado normalmente move-se por mero pragmatismo. Operadores notam que o capitão foi capaz das mais absurdas afrontas à estabilidade e temem seguir nessa toada. Assim, o demiurgo de Garanhuns acabou por ficar mais palatável, apesar dos pesares. Segundo o sócio-fundador da gestora SPX, Rogério Xavier, “o estrangeiro tem uma perspectiva de melhora para o Brasil com Lula assumindo o poder”. A mesma percepção é verificada em diversos nichos sociais inclusive dentro do País. Em mais uma carta-manifesto, empresários, advogados e artistas resolveram organizar um movimento para que o petista Lula fature a disputa ainda no primeiro turno. O que diz o grupo: entre seguir no desastre e retomar a estabilidade democrática institucional, com o fim do negacionismo e da volta ao desenvolvimento, a segunda hipótese está mais visível na alternativa Lula. É uma antecipação de votos consolidados muito grande. Os financistas e praças de investidores, em especial, anseiam por previsibilidade. Não gostam da inquietude imposta a seus negócios por uma política intervencionista ao sabor das vontades de um capitão. Reclamam da algazarra nas regras dos combustíveis, da indefinição em privatizações como a dos Correios e a da Eletrobrás e, noves fora, não engolem a figura do Messias loroteiro. Para Bolsonaro em pessoa, mais do que a antipatia da banca, pesou fortemente o posicionamento de Campos sobre o tema. O Planalto viu como um balde de água fria o que, lá dentro, interlocutores habituais classificaram como “consentimento”.

Afinal, era o presidente do BC tido em alta conta, da tropa de aliados incondicionais do governo. A questão para Bolsonaro e sua entourage é confundir alinhamento com submissão e cancelamento de pontos de vista. Campos, apenas, refletiu e vocalizou o sentimento real encontrado na banca.

(Nota publicada na edição 1261 da Revista Dinheiro)