O tiro fez barulho, mas acabou saindo pela culatra. Com a intenção de defender o uso do amianto tipo crisotila, uma campanha publicitária bancada por empresas nacionais que utilizam o mineral acabou por colocar o Brasil no centro de uma polêmica mundial em favor do banimento de sua exploração e uso industrial. Na terça 22, no Japão, um congresso internacional sobre os males causados pelo amianto à saúde humana expediu nota oficial com elogios à suspensão da campanha pelo Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar). Na esteira da agitação, o secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Alencar Ferreira, anunciou que o governo passou a trabalhar em franca oposição ao uso do mineral. ?Saíremos a público defendendo o banimento?, diz ele.

Apontado como causador de câncer e das doenças pulmonares mesotelioma e asbestose, o amianto está banido em 42 países, entre os quais França, Inglaterra e Alemanha. Nos EUA, enfrenta forte restrição, só podendo ser utilizado nas indústrias bélica e pesada. Ali, vítimas do contato direto com o mineral movem processos bilionários de indenização. A gigante Halliburton, envolvida em diferentes setores da economia americana, pediu concordata para seu setor de construção civil depois de pagar US$ 230 milhões em indenizações à vítimas do amianto. Na Europa, casos de câncer pulmonar provocados pelo amianto antifóbio foram detectados entre 30 e 40 anos depois de sua manipulação por trabalhadores em minas.

No Brasil, contam-se em 2,5 mil os casos de trabalhadores de minas de amianto que adquiriram doenças profissionais. Desses, 128 morreram. Em 1992, o tipo antifóbio teve sua utilização proibida no País. Em 1995, foi regulamentado o uso do tipo crisotila, utilizado por indústrias da construção civil e de auto-peças em produtos como telhas, caixas d?água e freios de automóveis. A única mina da América Latina fica em Mina Sul, Goiás. Dali saem anualmente 200 mil toneladas de crisotila, base de um negócio de US$ 500 milhões por ano. Terceiro maior produtor mundial, o Brasil exporta crisotila para países como China e Índia. Na defesa de seus interesses empresariais, 23 companhias ? entre as quais a Eternit, a Brasilit e a Brasfreios — fundaram o Instituto Crisotila Brasil. A entidade já entrou na Justiça contra a decisão do Conar de suspender a campanha publicitária.