O Google e o Facebook duelam em diversas áreas para tentar conquistar a hegemonia na internet. Mas existia um espaço em que a empresa comandada por Larry Page era praticamente imbatível. Comprado em 2006, por US$ 1,7 bilhão, o YouTube vencia de forma incontestável a batalha do vídeo online. Seus números são impressionantes. Por mês, um bilhão de pessoas ao redor do globo acessam o site do Google e consomem coletivamente seis bilhões de horas de filmes publicados por usuários e empresas. A cada minuto, mais de 100 horas de novos programas sobem na plataforma da companhia de Mountain View.

Em 2014, estima-se que o YouTube tenha gerado uma receita de US$ 3,4 bilhões, o triplo do registrado há dois anos. Essa zona de conforto parece estar com os dias contados. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, com o seu exército de 1,3 bilhão de amigos, começou, no ano passado, sua mais forte investida para minar a supremacia do Google na área de vídeo online, um mercado que deve faturar globalmente US$ 42,3 bilhões em 2020. Um dos primeiros passos do Facebook foi incentivar seus usuários a publicar clipes no site.

A moeda de troca para impulsionar a migração é uma visibilidade bem superior à do YouTube. Um filmete publicado diretamente na rede social de Zuckerberg tem alcance até cinco vezes maior do que um link no YouTube. “A quantidade de vídeos de pessoas e marcas cresceu 3,6 vezes em 2014”, informou, em nota, o Facebook. “No Brasil, 50% das pessoas que acessam a plataforma diariamente (ou seja, cerca de 31 milhões) veem ao menos um vídeo.” O Facebook, no entanto, não se limitou a aumentar o alcance dos vídeos publicados em seu site. No início deste ano, a rede social estreou novas funcionalidades para quem quer organizar seus filmetes.

A mais recente investida foi a compra da startup Quick Fire, especializada em compactação de imagens, por uma soma não revelada. Com ela, em tese, ficará mais leve para assistir um vídeo, o que é essencial para atrair usuários com smartphones em 3G e 4G, cuja conexão é limitada. A ofensiva de Zuckerberg está dando resultado. Segundo a consultoria americana comScore, que mede a audiência da internet, o Facebook já registra mais visualizações de vídeo do que o YouTube. Em dezembro, eram três bilhões de visualizações, segundo o Facebook.

Uma artimanha de Zuckerberg ajudou a inflar esse número: o recurso de autoplay. Com ele, a imagem roda sem áudio quando o conteúdo aparece na lista do usuário. O Facebook alega que isso melhora a experiência do usuário. Dois fatores foram fundamentais para o avanço do Facebook nos domínios do YouTube. O primeiro deles foi o seu sistema de comentários. “As pessoas se sentiram mais confortáveis em subir os vídeos no Facebook, onde os comentários em geral são positivos e identificados”, afirma Alan Wolk, presidente do conselho da 2nd Screen Society, associação de empresas vinculadas a tecnologia e televisão.

“O faroeste do sistema de comentários do YouTube encoraja textos negativos, o que é um problema para o Google.” Mas nada se compara ao desafio do balde de gelo, no ano passado, quando celebridades banharam-se com água gélida para chamar a atenção contra a esclerose lateral amiotrófica. Os vídeos tornaram-se virais pela plataforma de Zuckerberg, chegando a centenas de milhões de pessoas. O Google não se deu por vencido e partiu para o contra-ataque, alegando que a métrica que melhor retrata o engajamento em uma plataforma de vídeo é o tempo que os usuários passam assistindo a um filmete online – e não o número de visualizações.

“No YouTube, nós temos um crescimento de 50% ano sobre ano, chegando a mais de nove bilhões de horas assistidas por mês”, afirma Alvaro Paes de Barros, diretor de conteúdo do YouTube no Brasil. “Em 2008 e 2009, diziam que o Hulu ia acabar com o YouTube. Não aconteceu. Ao contrário, nós continuamos crescendo todos os anos.” Apesar desse discurso, o YouTube resolveu não baixar a guarda e passou a testar o recurso de autoplay, utilizado pelo rival. A nova funcionalidade reproduz um novo vídeo automaticamente após a visualização de outro.

O critério de escolha da próxima atração é baseado no histórico de navegação do usuário. Os analistas acreditam que a briga entre Google e Facebook deve ganhar novos lances neste ano. “O YouTube deve observar se seus principais produtores de conteúdo começam a dar preferência ao Facebook”, disse à DINHEIRO Debra Aho Williamson, diretora de análise da consultoria americana eMarketer. As marcas já notaram que os ventos estão soprando favoravelmente ao Facebook agora.

A Apple, por exemplo, publicou, em dezembro do ano passado, uma propaganda em cada um de seus perfis oficiais nos dois sites. O vídeo chegou a ter mais de 20 milhões de visualizações no Facebook, sete vezes mais do que a versão do YouTube. O conteúdo, no entanto, foi impulsionado pelo pagamento de uma soma não revelada ao Facebook. A Marvel Studios fez o mesmo teste com o segundo trailer de Vingadores 2: A Era de Ultron, blockbuster que deve invadir as salas dos cinemas neste ano.

O resultado foi digno da briga entre os super-heróis Hulk e Homem de Ferro, retratados no vídeo. O YouTube levou a melhor em visualizações (30 milhões x 7 milhões), mas houve mais curtidas no Facebook (178 mil x 173 mil). “O YouTube tem um negócio arraigado, familiar aos anunciantes e usuários”, afirma Debra. Para a analista do eMarketer, muito do crescimento do Facebook se deve ao fato de sua base anterior ser pequena. “O verdadeiro teste da plataforma virá neste ano, quando mais anunciantes vão testar a efetividade de sua publicidade nas duas plataformas.”