Até há pouco mais de meio século, associar o plástico a matéria-prima de luxo era quase uma heresia na Itália. Meca do luxo e da alta qualidade, o país acostumou-se desde sempre a transformar ouro, pedras, madeira e outros materiais em arte. Entretanto, depois de um século e meio do início da era industrial na Europa, esse polímero sintético passou de descartável a desejável. Muito da nova imagem e da incorporação desse material sintético à produção industrial deve-se à Kartell. 

 

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“O País está entre nossos dez maiores mercados consumidores. Talvez, em breve,

ele possa até estar no top 5″, diz a executiva

 

Líder mundial na fabricação de móveis e utensílios de plástico, a empresa criada em 1949 pelo engenheiro químico Giulio Castelli conseguiu convencer não só os italianos, mas os consumidores de 96 países (o Brasil inclusive), de que decorar a sala de estar com uma cadeira de plástico transparente, a famosa 4801 Joe Colombo (vendida aqui por R$ 12 mil), é sinal de requinte. Trata-se de um caso de sucesso que deixa Lorenza Luti, neta de Castelli, herdeira e diretora de marketing da marca, muito orgulhosa. ?Hoje, 70% dos produtos que vendemos são de plástico?, diz. ?Esse material é a alma da Kartell.? Lorenza visitou o Brasil no final de 2013. 


Ela veio acompanhar a inauguração de três lojas próprias, em Santo André, no ABC paulista, em Curitiba e em Recife. Somadas essas unidades às do Rio de Janeiro, São Paulo, Santos e Goiânia, a Kartell conta com uma pequena rede de sete butiques em quatro regiões brasileiras. ?Essas inaugurações deixam claro o interesse da marca pelo País?, diz. ?O Brasil é o mercado mais importante da América Latina e já é visto como um país europeu.? Mas a expansão não deve parar por aí. Segundo Lorenza, o grupo tem planos de abrir pelo menos uma loja em cada uma das principais metrópoles brasileiras. 

 

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Seu otimismo tem uma relação direta com os US$ 12 bilhões movimentados por ano pelo setor de alto padrão do Brasil, segundo pesquisa da consultoria suíça Digital Luxury Group. E não parece haver um fim próximo para esse bom momento econômico do País: o ano de 2014, por exemplo, deve registrar um crescimento entre 10% e 15% para o nicho de mercado. O êxito da Kartell, mais evidente a partir dos anos 1980, é creditado à gestão de Claudio Luti, genro do fundador e pai de Lorenza, no comando das empresas. 

 

Foi ele quem deflagrou o processo de internacionalização da marca, que conta hoje com 130 flagships, 200 lojas e 4 mil pontos de venda espalhados pelo planeta. ?Depois da Itália, os mercados mais importantes são França, Alemanha e Estados Unidos?, afirma Lorenza. E o Brasil? ?Está entre os nossos dez maiores e, quem sabe um dia, alcance o top 5.? Outros mercados emergentes, como China, Oriente Médio e África do Sul, também fazem diferença no faturamento da companhia, cujo valor não é divulgado. 

 

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Ainda não disponíveis no País, as sandálias são sucesso na Europa

 

PORTFÓLIO AMPLIADO E não é só a expansão territorial que faz parte da estratégia da Kartell. Inspirada em uma breve experiência no ramo da moda, na grife masculina Ermenegildo Zegna, Lorenza promoveu, em 2008, a ampliação do portfólio de produtos com sandálias e acessórios plásticos, de sua submarca Glue Cinderella. Por enquanto, são fabricados apenas sapatos e bolsas. ?Esses itens ainda representam 2% da nossa receita, mas esperamos que cresçam cada vez mais com o passar do tempo?, afirma. Jéthero Miranda, coordenador do curso de design de interiores da Belas Artes, acredita que o mix entre moda e design é uma tendência do mercado. 

 

?O inverso também acontece?, afirma o especialista. ?Cada vez mais, grifes fashion, como a Armani, arriscam produzir peças para o mercado de design de interiores e isso funciona bem.? Outro fator estratégico que tem contribuído fortemente para a expansão das vendas da Kartell pelo planeta são suas parcerias com designers consagrados. Profissionais do calibre do francês Philippe Starck, da espanhola Patricia Urquiola e do holandês Marcel Wanders já assinaram cadeiras e móveis moldados em plástico para a marca. Eles e mais uma dúzia de outras estrelas do setor são responsáveis pelos 15 lançamentos anuais da grife. 

 

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A Kartell mantém sete lojas no Brasil: em São Paulo, Santos, Santo André,

Curitiba, Rio de Janeiro (foto), Goiânia e Recife

 

Luti acredita que essa mistura de nacionalidades reflete na marca, transformando a empresa de mobiliário italiana em uma referência no mercado internacional. A união entre Starck e a Kartell, por exemplo, rendeu ícones no design internacional, como a cadeira Mademoiselle, a Louis Ghost e a Master, esta última o carro-chefe das vendas da marca no Brasil e no mundo. Há também alianças com grifes de moda. A cadeira Mademoiselle, por exemplo, criada por Starck, ganhou revestimentos de grifes como Missoni, Dolce & Gabbana, Valentino e Burberry, fazendo a peça chegar ao valor de até R$ 4,4 mil a unidade. 

 

?Quem sabe até podemos trabalhar com um artista daqui em algum momento??, sugere a herdeira, fã de carteirinha dos irmãos Fernando e Humberto Campana, de São Paulo. Lorenza cuida, ainda, da divulgação do conceito concebido pela empresa da família. Está sob sua responsabilidade a gestão do Museu Kartell, que recebeu o Prêmio Guggenheim como um dos melhores do mundo a retratar a evolução da arte industrial, em 2000. ?Para mim, a Kartell não é apenas uma empresa de design, mas uma marca de estilo de vida autêntica?, afirma a neta do fundador Castelli. 

 

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