A banqueira Juliana Pentagna Guimarães, diretora de captação de recursos e de relações com investidores do mineiro Bonsucesso, está de olho na balança. Ou melhor, no balanço. Desde o início de 2013, ela comanda uma dieta severa no banco fundado em 1992 por seu pai, Paulo Henrique Pentagna Guimarães. Administradora de empresas com pós-graduação em finanças, ela trabalha há 15 anos no Bonsucesso. No início do ano passado, ao observar as condições crescentemente adversas do mercado de empréstimos consignados, seu principal negócio, o Bonsucesso decidiu emagrecer. “Optamos por diminuir a concessão de empréstimos e reduzir o número de convênios com prefeituras e autarquias com quem trabalhávamos”, diz Juliana. 

 

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Juliana e Paulo Henrique Pentagna Guimarães: reduzindo a atuação no consignado

para enfrentar a concorrência dos gigantes e a retração das margens

 

“A entrada dos grandes bancos de varejo no consignado tornou as operações mais difíceis e menos rentáveis.” O resultado dessa mudança de estratégia foi um corte de quase um bilhão de reais na carteira de empréstimos, que recuou 28,6%, baixando de R$ 3,35 bilhões em 2012 para R$ 2,92 bilhões em 2013. No entanto, esses números mais magros refletiram-se em mais saúde na última linha do balanço. O lucro cresceu quase 35%, de R$ 25,5 milhões em 2012 para R$ 34,4 milhões em 2013. A rentabilidade patrimonial avançou de 6,7% no ano retrasado para 9% em 2013, em linha com a média de 10,8% dos bancos com o perfil do Bonsucesso.

 

Colocar a dieta em prática não foi fácil, pois, como sempre ocorre nesses casos, obrigou o banco a alterar hábitos profundamente arraigados. Um deles foi a mudança na maneira de ceder os empréstimos. A maior parte do negócio dos bancos pequenos e médios que operam com empréstimos consignados consiste em encontrar clientes para quem emprestar, fechar o negócio e, em seguida, repassar o crédito para bancos de maior porte, com mais acesso a capital. Essa prática, amplamente divulgada, é conhecida como cessão de crédito e pode ser realizada de duas formas. Na mais comum e rentável, o banco pequeno compartilha os riscos do calote. É a chamada cessão com co-obrigação. 

 

Outra alternativa, mais segura para o banco pequeno, é transferir o risco do calote integralmente ao banco grande, na chamada cessão sem co-obrigação. Pode parecer apenas mais um daqueles detalhes insignificantes das finanças, mas faz toda a diferença para os bancos pequenos. Ao fim de 2011, o Banco Central (BC) alterou a forma de contabilizar esses empréstimos, o que reduziu os lucros da cessão com co-obrigação. “Isso nos obrigou a mudar nossa forma de trabalhar”, diz Juliana. A saída foi reduzir o número de financiamentos concedidos, concentrando esforços naqueles em que o tamanho da carteira ou os riscos justificassem margens de lucro mais gorduchas. “Nós tínhamos cerca de 200 acordos com prefeituras, estados e autarquias para conceder empréstimos aos funcionários, mas reduzimos esse número para 90”, diz Juliana. 

 

“Ficamos apenas com aqueles nos quais o tamanho da base e a qualidade do crédito justificavam nossa atuação.” Outra medida foi cancelar as cessões com co-obrigação e partir para aquelas sem essa divisão dos riscos. Com isso, o banco tornou seu balanço mais leve, reduziu a alavancagem e a necessidade de provisões. Quem conhece o sistema avalia que a estratégia faz sentido. “O segmento dos empréstimos consignados tem estado cada vez mais competitivo e, nesse caso, faz sentido para os bancos menores diminuir de tamanho e se concentrar nas margens”, diz o economista Roberto Troster, especializado no setor bancário. Segundo ele, os resultados de 2013 divulgados pelo Bonsucesso na terça-feira 11 mostram um balanço enxuto e consistente. 

 

“A decisão foi acertada”, diz ele. Os próximos passos do Bonsucesso serão no segmento de cartões. O banco vem investindo na concessão de empréstimos por meio de plásticos com limites de crédito consignado. “O cliente contrata um financiamento e obtém um limite pré-aprovado”, diz Juliana. “O cartão funciona normalmente, a diferença é que o pagamento mínimo da fatura é consignado na folha.” Segundo a executiva, o banco já emitiu cerca de 350 mil cartões, e espera chegar a 400 mil no fim de 2014. “O crescimento vem sendo tão acelerado que estamos até estudando a criação de uma empresa de adquirência, para reforçar nossa atuação junto a pequenas e médias empresas”, diz ela.

 

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