Experimente, caro leitor, perguntar a um gestor governamental ou a um executivo de uma grande empresa qual é a importância que ele dá à biodiversidade. Possivelmente, nove entre dez interlocutores dirão que este ingrediente está no topo de suas preocupações, do ponto de vista estratégico. Ocorre que entre o que se diz  e o que vem sendo feito, de fato, existe uma grande distância. O debate, necessário do ponto de vista conceitual e até mesmo político, é, sem dúvida importante. Afinal, a discussão de ideias ajuda a formar uma onda favorável à adoção de iniciativas inovadoras que, muitas vezes, são difíceis de serem entendidas.

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Contudo, já ficou claro que é preciso avançar. E fazer isso rápido o bastante para que o Brasil assuma, de fato, o papel de protagonista na chamada economia verde. Na terça-feira 24, tive a oportunidade de assistir aos debates da conferência internacional Sustentável 2013, promovida pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Mais que apropriado, o cenário bucólico do Espaço Tom Jobim, dentro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, foi inspirador. Nesse encontro, chamaram a atenção as falas de dois brasileiros que atuam em palcos distintos: Denise Hamú, representante do Brasil no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e Jorge Soto, diretor de Sustentabilidade da Braskem, empresa petroquímica controlada pelo grupo Odebrecht. 

 

Apesar de terem entrado em cena em momentos distintos, ambos seguiram no mesmo diapasão: a nossa incapacidade de trazer a biodiversidade para o mundo dos negócios. Os motivos são inúmeros. Vão desde a falta de sintonia entre a sociedade, as empresas e o governo, e até mesmo à timidez dos empreendedores. “Não podemos continuar apostando em projetos-piloto em um País com as dimensões territoriais, a biodiversidade e a importância estratégica que o Brasil possui nesse tema”, bradou Denise. “Está na hora de abandonarmos o que não está dando certo, e privilegiar o que gera resultados concretos.” 

 

Perfeito. Ocorre que a inovação, especialmente quando contempla aspectos sustentáveis, nem sempre é tratada como deveria, segundo as palavras de Soto. “A Braskem foi a pioneira na fabricação do plástico verde no Brasil e poderíamos estar produzindo três vezes mais,” disse. “Contudo, a falta de incentivos tributários faz com que esse mercado se desenvolva aquém do que poderia.”Nesse contexto, a vantagem comparativa da cana de açúcar na produção de substitutos de derivados de petróleo, como resinas e combustíveis, está se perdendo. O plástico verde chega a custar 40% mais que o convencional. 

 

Mais que apenas apontar culpados, o tom do encontro, foi por busca de soluções. Ficou claro que, se o setor privado, o governo ou a sociedade seguirem atuando de forma isolada, não será possível avançar nesse debate. Até porque, os efeitos perversos do aquecimento global são cada vez mais visíveis nas alterações do clima, e o planeta dá mostras de ter esgotado sua capacidade de gerar recursos na velocidade exigida pelo velho estilo de vida e produção. Nesse debate, o Brasil ainda tem crédito graças, por exemplo, à nossa matriz energética. Então, está na hora de transformá-lo em riquezas. De fato.