25/06/2008 - 7:00
DINHEIRO – O que significa a abertura de capital e o IPO da OGX neste momento adverso do mercado acionário?
EDEMIR PINTO – Significa muito. É isso o que os empresários no Brasil precisam ter: a coragem do Eike [Batista]. Muitas vezes eles não fazem uma avaliação adequada do cenário, ficam muito preocupados com o cenário externo. O Brasil é outro país, nossa realidade é completamente diferente. A gente viu tudo o que aconteceu lá fora, principalmente com a crise do subprime. O Eike não é apenas visionário, ele tem coragem. Está fazendo [o IPO] em um momento em que muitos empresários recuaram e estão esperando. Aquele que tem a visão antecipada vai e faz. Tanto que o IPO da OGX foi o maior da história do País, desbancou o da Bovespa e o da BM&F.
DINHEIRO – Como isso foi possível?
PINTO – O destaque é exatamente o arcabouço de regulação e a transparência existentes hoje no País. Nosso diferencial é algo gritante quando comparamos o Brasil com os outros BRICS [grupo de países emergentes que, além do Brasil, também inclui Rússia, China e Índia], como normalmente faz o investidor estrangeiro. Estamos muito tempo à frente dos caras. O grau de investimento veio trazer um reforço adicional.
DINHEIRO – Por quê?
PINTO – Qualquer mexida em contratos, em leis, pode comouplicar o selo que nós conseguimos. O governo brasileiro está ciente disso e cada vez mais vai transmitir ao investidor estrangeiro essa confiança na regra e no contrato.
DINHEIRO – Mas agora o governo quer mudar as regras para a exploração das novas descobertas das bacias de petróleo. Isso pode ter alguma conseqüência?
PINTO – A revisão da legislação é natural, pois o País passa por um momento espetacular, principalmente por causa da questão do petróleo e do etanol. Assim, as regras têm de ser revistas a todo momento, principalmente agora. A ANP [Agência Nacional do Petróleo] tem feito um trabalho espetacular nesse ponto, tem respondido com muita rapidez às demandas.
DINHEIRO – Quais demandas?
PINTO – No caso do mercado de etanol da BM&F, a ANP passou a olhar toda a legislação com carinho. No passado, não tínhamos o etanol negociado em Bolsa. A ANP está adequando as regras. Esse mercado vai ficar muito forte e precisa de regras adequadas para que todos possam operar
DINHEIRO – O mercado de ações vai retomar o fôlego dos IPOs, que arrefeceram em 2008 depois de bater um recorde de 64 operações em 2007?
PINTO – Temos percebido que todo mundo está se preparando para o segundo semestre. O Eike deu uma injeção para os empresários acordarem.
DINHEIRO – Qual é a expectativa da Bolsa para as aberturas de capital no segundo semestre?
PINTO – O número do ano passado foi muito expressivo e ficou até acima da nossa expectativa. Se conseguirmos fazer este ano 70% disso…
DINHEIRO – Dá para fazer 40 IPOs este ano?
PINTO – Tem uma fila enorme aí, tem muita gente analisando, em fase final. A gente consegue chegar lá. Com a entrada da OGX, chegamos a 100 empresas no Novo Mercado.
DINHEIRO – O mercado de ações está muito nervoso. O Ibovespa subiu a 74 mil pontos e depois perdeu 10 mil pontos. Como avalia este momento para o investidor?
PINTO – O mercado está muito volátil. Tem um ingrediente que é o preço das commodities, o preço dos alimentos, que tem causado muito impacto em nível global. Essa volatilidade não é só no Ibovespa. É em todas as Bolsas, em todos os continentes. Não é uma questão particular, específica do Brasil.
DINHEIRO – Mas a Bolsa perdeu o pique nos últimos dias. Não é um problema do Brasil?
PINTO – Ao contrário, a Bolsa brasileira demonstrou que tem força. Chegou, em cenário de céu de brigadeiro, a 75 mil pontos. O Brasil tem tudo para continuar crescendo. As empresas brasileiras têm dado exemplos de resultados, principalmente essas 100 companhias que, no Novo Mercado, levam a um compromisso maior de governança. Este é outro diferencial que temos aqui na América Latina.
DINHEIRO – O que pode mudar no mercado de acões com a fusão da Bovespa e da BM&F?
PINTO – Já que estamos na catedral do mercado de capitais, vamos ver o que a fusão pode mudar nesse mercado. Faremos um esforço incondicional para que todas as empresas brasileiras abram capital no Novo Mercado. Esse ambiente de negociação já deu demonstrações espetaculares de regras e de boa governança, em padrão internacional. Temos grandes companhias brasileiras se preparando para novas emissões. O primeiro passo é buscar essas emissões e fazer com que aconteçam aqui.
DINHEIRO – E depois?
PINTO – O segundo passo é trabalhar para que as empresas da América Latina listem capital aqui no Brasil, aqui na BM&F Bovespa S.A..
DINHEIRO – Isso pressupõe acordos regionais com as Bolsas latino-americanas?
PINTO – Temos que sair, fazer acordos com as Bolsas, os mercados e os empresários da América Latina. O terceiro passo é tentar buscar algo que já está lá fora e trazer para o País. Temos uma série de projetos e trabalhos. O Brasil está conseguindo e, com o grau de investimento e o arcabouço regulatório, temos condição e credibilidade de buscar este mercado de volta
DINHEIRO – O acordo da Bovespa com a Bolsa Mexicana acabou emperrando porque, no México, não há a identificação do cliente final, como no Brasil. Como ficou essa integração?
PINTO – O acordo técnico da Bovespa com a Bolsa Mexicana prevê troca de informações e know how de mercado. A Bolsa Mexicana fez seu IPO [na sexta-feira 13]. Temos que aguardar agora esse desenho. Era a única Bolsa que tinha esse projeto em andamento. Agora com a listagem pública, temos um outro mapa. Vamos ver.
DINHEIRO – A BM&F Bovespa e a Bolsa Mexicana agora têm capital aberto. Isso pode facilitar uma fusão?
PINTO – O conselho da BM&F Bovespa S.A. está muito atento a todas as oportunidades. Oportunidades podem ser de parceria, de acordo, de fusão. Num primeiro momento, o que temos de explorar é um acordo operacional. Na América Latina, não tem nenhuma outra Bolsa com um volume que se aproxima do negociado na BM&F Bovespa S.A.. Temos de buscar um sistema operacional para canalizar todos os produtos disponíveis na América Latina para um único sistema de negociação. Hoje você vê o mundo negociando esses produtos, mas de uma forma muito isolada. Precisamos concentrar isso, trazer para um ambiente único de liquidez.
DINHEIRO – Qual será sua marca pessoal na gestão da BM&F Bovespa?
PINTO – Não tenho marca. Temos é que buscar uma administração alinhada com as expectativas dos nossos acionistas, com base nos estatutos, nos regulamentos da companhia. A BM&F Bovespa S.A. é uma empresa pública, está no Novo Mercado e tem padrões de boa governança. Essa é a marca.
DINHEIRO – Qual é o cronograma da fusão do ponto de vista dos executivos e demais funcionários?
PINTO – A idéia é definir a diretoria como um todo até o final do mês. Provavelmente, em julho e agosto vamos definir as gerências e os demais níveis. A partir de setembro, já teremos resolvida a questão da sinergia em nível de pessoal. Até porque temos que entregar 10% neste ano. E vamos entregar.
DINHEIRO – A Bolsa tem tido problemas de tecnologia. Em outras ocasiões anteriores, o sistema não aguentou o volume de negócios e travou. Isso causou uma preocupação no mercado e as ações da Bovespa e da BM&F caíram.
PINTO – Não tenho dúvida de que isso preocupa. A TI [tecnologia da informação] é o cérebro de uma companhia prestadora de serviços como a nossa.
DINHEIRO – Qual foi o problema?
PINTO – Nós provavelmente devemos ter falhado numa comunicação: dia 2 de junho colocamos uma nova versão do [sistema de negociação] MegaBolsa. É uma versão muito parruda e provocou uma série de benefícios para o mercado. Mas, obviamente, tem alguns ajustes e foram eles que acarretaram um probleminha no dia 12 de junho.
DINHEIRO – A BM&F Bovespa está preparada para a expansão do mercado?
PINTO – Nós crescemos muito e nossa capacidade já está implantada desde março deste ano. Esse problema que está acontecendo não tem nada a ver com capacidade, é um problema de uma nova versão do MegaBolsa, que é um sistema muito complexo e grandioso. Botei isso num comunicado