A política de redução dos juros tem levado, em decorrência, a uma arrastada cantilena de tecnocratas pela mudança no rendimento das cadernetas de poupança. O tema é nitroglicerina pura, especialmente em ano eleitoral. Há décadas que a caderneta se converteu em grande instrumento de política social e, principalmente, na melhor alternativa de aposentadoria dos brasileiros. Milhões deles passam boa parte da vida construindo sua poupança para usufruir dela quando não possuem mais condições de gerar recursos. Vivem da aplicação. Taxistas, costureiras, operários de inúmeros setores, profissionais liberais, a massa de trabalhadores conseguem acumular valores até representativos de reserva para depois bancarem suas despesas com o rendimento dessas poupanças. 

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Daí não ser crível imaginar que as maiores contas são fruto exclusivamente dos tubarões do mercado, investidores profissionais, especuladores ferozes, que navegam de aplicação em aplicação ao sabor das melhores taxas. Continua na memória do brasileiro como pesadelo surreal o confisco da poupança executado no governo Collor que deixou uma marca irreparável na credibilidade do sistema. A simples ideia de nova interferência estatal nesse instrumento, de qualquer natureza que seja, causa calafrios em boa parte da população e pode provocar uma onda de antipatia generalizada contra seus executores e apoiadores – com resultados devastadores nas urnas municipais e até estaduais e federais em 2014. Claro que há uma enorme diferença entre o confisco brutal e ajustes de ordem pontual no valor do dividendo. Mas para o povo que aderiu à alternativa de guardar ali, e não no colchão, suas reservas essa diferença de conduta certamente não será percebida. 

 

Como já disse o ex-presidente Lula quando ainda candidato, a poupança é dos brasileiros. E eles não aceitam medidas oportunistas nessa seara. Do ponto de vista meramente técnico, trata-se de uma decisão inevitável e lógica para evitar a migração dos aplicadores. Mas o fator político e social não pode ser descartado, como também não o foi em outras ocasiões, quando conscientemente as autoridades fizeram a opção de fornecer subsídios e incentivos em diversas áreas da economia. A poupança pode se converter em uma forma de subsídio social. Mesmo que à custa de algum prejuízo para o Estado, que está aí para isso mesmo: a promoção do bem- estar geral. Seria melhor e mais eficaz para combater o desequilíbrio financeiro das aplicações um ataque direto contra as altas taxas administrativas praticadas pelos bancos em seus fundos de investimento que afugentam a clientela. A briga contra o pequeno poupador sairá, obviamente, mais cara.