A última vez que a Vicunha registrou lucro o Real estava nascendo. Lá se vão longos nove anos de um insistente vermelho nas contas do maior grupo têxtil do País. A boa nova para as famílias Steinbruch e Rabinovich, donas da empresa, é que este tabu de quase uma década está prestes a ser quebrado. ?Estamos animados com o resultado positivo do primeiro trimestre (de R$ 51 milhões). É um indicativo de que poderemos fechar as contas no azul?, afirma Pedro Felipe Borges Neto, presidente da Vicunha Têxtil. ?Será nosso primeiro lucro desde 1994?, reforça. Mais que limpar o balanço, a empresa finalmente consegue se livrar dos efeitos colaterais de uma agressiva estratégia de expansão do Grupo Vicunha, a holding que controla a parte têxtil e vários outros negócios da dupla Steinbruch-Rabinovich. Foram exatamente estes outros negócios que acabaram sufocando a Vicunha Têxtil. Para entender o problema é preciso voltar um pouco no tempo. Em meados da década de 90, o grupo entrou na siderurgia, mineração, telefonia e gás. A diversificação chegou ao extremo de incluir fazendas de algodão (para abastecer suas fiações) e de manga (para exportação), no Rio Grande do Norte. A conta do gigantismo foi salgada e quem pagou a maior fatia foi exatamente o segmento têxtil, relegado ao segundo plano no exato instante em que as concorrentes buscavam formas para sobreviver à abertura da economia. O sinal de alerta soou em 2001, quando o balanço da divisão exibiu um prejuízo de R$ 120 milhões. ?Ficou claro que era preciso fazer algo rapidamente?, conta Borges Neto. A partir daí, a companhia mergulhou em um vigoroso processo de mudanças, que incluiu medidas amargas como a demissão de trabalhadores, o fechamento de fábricas e a venda de ativos. ?Fizemos a lição de casa?, garante o presidente.

Bom momento. A safra de boas notícias não se restringe apenas à volta da cor azul ao balanço. No front externo, a Vicunha Têxtil também vem conseguindo vitórias. Para este ano, a meta é dobrar para 40% o volume da produção exportada, arrecadando o equivalente a US$ 160 milhões. O fortalecimento desta área tornou-se uma obsessão para o executivo. ?Uma empresa do tamanho da Vicunha tem que se abrir para o mundo?, prega Borges Neto. Para atingir este patamar, a companhia está reforçando sua atuação nos mercados que considera estratégicos: Estados Unidos, União Européia e Argentina, onde mantém escritórios de representação. Para dar conta dos pedidos, as 13 fábricas do grupo estão operando a todo vapor. A meta é investir R$ 80 milhões neste ano e ampliar a capacidade produtiva nos segmentos de brim, índigo, malhas, fibras artificiais e sintéticas, nos quais a Vicunha é líder. Para dar conta das encomendas a empresa pretende contratar 1,5 mil trabalhadores até o final do ano.

Apesar do bom momento vivido pela companhia, Borges Neto diz
que ainda há muito para ser feito. A dívida de R$ 388 milhões permanece como uma espécie de calcanhar-de-aquiles. O trabalho
de equacionamento deste passivo vem sendo feito em etapas. O primeiro passo foi dado em meados de 2002, quando os acionistas fizeram um aporte de R$ 60 milhões para melhorar o fluxo de caixa.
Em janeiro último, a Vicunha vendeu a divisão de linhas industriais para a Coats Corrente, embolsando R$ 33 milhões. No mês seguinte, saiu da joint-venture que mantinha com a Du Pont na Fibra DuPont Sudamérica. Essas medidas agradaram ao mercado financeiro. ?O processo de reestruturação tem sido encaminhado de maneira correta?, reconhece Reginaldo Takara, analista da Standard & Poors. Diz, porém, que é cedo para prever um final feliz para esta história:
?O balanço da companhia ainda é muito frágil?. O presidente da Vicunha concorda. Alega, no entanto, que a companhia tem condições de lidar com as dificuldades que possam surgir no cami-
nho. ?Uma empresa que fatura R$ 1,5 bilhão pode gerar caixa suficiente para bancar seus compromissos financeiros?, garante Borges. É o que também acreditam as famílias Steinbruch e Rabi-
novich que confiaram a dura missão ao executivo.