Virtualmente todos os hotéis de Cannes estão lotados. E também os das cidades vizinhas, de San Raphael a Antibes, na Côte d?Azur. É impossível conseguir um táxi e há congestionamentos de proporções paulistanas
em frente ao Boulevard de La Croissette. O cenário é parecido, mas não foi o festival de cinema que chegou mais cedo este ano. Em vez de astros das telas, quem desembarca no Palais de Festivals são os quase 20 mil participantes da décima sétima edição da Mipim, a maior feira de negócios imobiliários do mundo. Que neste ano tem um pouco de sabor brasileiro. O Estado de Sergipe usa o evento como palco para o lançamento de um megaempreendimento batizado Porto Cristóvão. Concebido pela Brasilinvest em parceria com a multinacional In-Vi (Investment Vision), o projeto prevê a construção de uma cidade turística ao sul de Aracaju, na foz do Rio Vaza Barris. Não apenas um resort com várias opções de acomodações em hotéis e condomínios, mas uma vila com escolas, hospitais, lojas, escritórios, cinemas e restaurantes. Uma espécie de Cancún nordestina, ainda que a comparação com o balneário mexicano seja rejeitada por seus idealizadores. Orçamento inicial do empreendimento: US$ 2 bilhões.

O governo sergipano está desapropriando um terreno de 2 mil hectares (20 milhões de metros quadrados) para o empreendimento. Inicialmente, 41% dessa área será destinada a distritos residenciais e 15% a hotéis. Em torno deles, serão construídas uma marina para iates e um pier para navios de cruzeiro, um centro de conferências, complexos esportivos, um spa, várias ecovilas e três campos de golfe de 18 buracos. Campo de pouso, não. Mas Porto Cristóvão estará a 15 minutos do Aeroporto de Aracaju. Entre residentes e hóspedes, estima-se que a comunidade terá capacidade para até 60 mil pessoas.

Principal responsável pela missão de atrair investidores e levantar recursos para tirar Porto Cristóvão do papel, o empresário Mário Garnero aproveita a vitrine globalizada em que se transformou a Mipim para fazer o que faz melhor: contatos. Um drinque com investidores ingleses em um café da Croissette, uma passadinha por um coquetel no famoso Carlton Inter Continental e, na seqüência, um jantar com cardápio variado o bastante para incluir negócios com créditos de carbono e biodiesel no Brasil. ?Este projeto é realmente especial?, diz ele, finalmente afrouxando o nó da gravata depois de um longo dia de trabalho. ?Com o melhor IDH do Nordeste, os royalties do petróleo irrigando a economia e um litoral maravilhoso ainda inexplorado pelo turismo, Sergipe é um achado.?

Pelo cronograma atual, Porto Cristóvão começa a sair do chão em 2007. ?É um empreendimento para os próximos 20 anos?, define o arquiteto Guy Perry, presidente da In-Vi e pai do projeto sergipano. Segundo ele, a partir do quinto ou sexto ano de trabalhos, a comunidade já terá uma cara própria. E, se tudo correr como previsto, colocará Sergipe no mapa do turismo global. ?Nós nos atrasamos no desenvolvimento da indústria de viagens?, reconhece João Alves Filho, governador do Estado. ?Mas quem larga por último tem a vantagem de não repetir os erros dos outros.?