25/04/2014 - 20:00
Já não se fazem mais açougues como antigamente. Carcaças penduradas em ganchos e paredes de azulejos? Homenzarrões com seus facões ameaçadores, exibindo aventais manchados de sangue? Lugares como esses estão quase extintos na paisagem urbana, ao menos nos bairros mais sofisticados das grandes metrópoles. Nas últimas décadas, os açougues de rua tornaram-se raridade e os consumidores migraram desses empreendimentos, de aparência nada agradável, para dentro dos supermercados. No entanto, com o crescente investimento na criação de butiques de carne, o hábito de comprar bifes suculentos em estabelecimentos exclusivos está em alta.
A diferença é que, nesses locais, o consumidor pode se sentir em uma loja de luxo, assemelhados às melhores delicatessens. Localizado no burburinho gastronômico do bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, a Feed é um exemplo dessa tendência de mercado. Sua área de 360 m², equipada com refrigeradores repletos de carnes nobres, já limpas e embaladas a vácuo, acessórios para culinária e até mesmo prateleiras de vinhos que harmonizam com o alimento, em nada lembra aqueles antigos açougues. Surgiu uma dúvida? Pergunte para alguns dos funcionários especializados no assunto e eles darão uma aula sobre carnes e como prepará-las.
Há até uma chef de cozinha, como no caso de Letícia Massula, para dar aulas de churrasco. Além do atendimento personalizado, o lugar se destaca pela decoração: pé-direito com cinco metros de altura, parede em madeira clara e poltronas em camurça, resultado de um investimento de R$ 5 milhões feito pelo fazendeiro e empresário goiano Pedro Merola. Montar uma casa de carnes nobres com foco no público final era o sonho de Merola, que comprou as ações dos outros 13 sócios no Bonsmara Beef, empresa que antes fornecia carne exclusivamente para restaurantes paulistas.
“Esse tipo de empreendimento está em alta e tem sido visto em vários lugares na Europa, como Londres e Paris, e nos EUA, como Nova York e Los Angeles”, diz ele. Três meses depois da abertura do local, Merola já planeja aumentar o alcance territorial da Feed com a inauguração de um serviço delivery. Mais tradicionais no mercado paulistano, o Prime Beef, em Moema, e o Intermezzo Gourmet, no Jardim Paulista, já vendem para o consumidor final há mais tempo do que a sofisticada Feed. Menos focados em design do que o concorrente do Itaim Bibi, ambos os empreendimentos oferecem carnes de alta qualidade e com aparência que passam longe dos velhos açougues.
Há seis anos no mercado, o empresário paulista Ricardo Gabriel, dono do Prime Beef, conta que a ideia do negócio teve início quando ele começou a ter contato com frigoríficos e importadores por causa da fazenda do pai em Botucatu. “Comecei a comprar e vender entre amigos”, afirma. “Na época, as pessoas começaram a viajar para fora e ver que as carnes que tínhamos no Brasil não eram, geralmente, de alta qualidade.” Cauteloso, o empresário, que planejava abrir mais uma unidade na capital paulista, pisou no freio
e decidiu esperar um pouco mais, por conta da crescente concorrência que existe na cidade.
Já a Intermezzo Gourmet, que fornece para a churrascaria Varanda, deve abrir outras unidades em breve. Para Dárcio Lazzarini, diretor da distribuidora de carnes, o interesse do público por carnes selecionadas e de qualidade garantida também tem a ver com a quantidade de brasileiros que viajam para o Exterior. “A gastronomia tem despertado o interesse do mercado nacional”, afirma ele. Na Intermezzo, um quilo de kobe beef, uma das carnes que mais têm se destacado na alta gastronomia, pode chegar a até R$ 300, de acordo com o grau de marmorização, ou seja, a quantidade de gordura entremeada à carne, responsável por deixar o alimento com sabor mais amanteigado.
Enquanto a produção da Feed é exclusivamente nacional, tanto a Intermezzo quanto o Prime Beef se abastecem de carnes oriundas de lugares como Uruguai e Austrália, todas, é claro, de origem controlada. A fidelização é essencial para esses empreendimentos. “A qualidade da carne costuma ser instável nos concorrentes que atendem a massa, mas aqui o consumidor precisa sentir que pode confiar na marca de olhos fechados”, afirma Merole, da Feed. O empresário garante que até as carnes menos badaladas comercializadas na casa, como lagarto ou patinho, dão pratos dignos de um restaurante cinco-estrelas. “Aqui é um espaço de gastronomia de qualidade e foi desenhado com todo o conforto que o consumidor que busca gastronomia de qualidade espera do mercado”, diz Merole.