10/10/2014 - 20:00
Amigos, com uma paixão em comum pela música, os executivos José Eboli, presidente da Universal Music Brasil, e o israelense Amos Genish, presidente da operadora paranaense GVT, também compartilham o fato de comandarem as duas empresas controladas, no Brasil, pelo grupo francês Vivendi. Eles deixarão, no entanto, de ter isso em comum a partir do primeiro semestre de 2015, quando a gigante europeia do entretenimento espera finalizar a venda da GVT para o grupo espanhol Telefónica por US$ 9,3 bilhões em dinheiro e ações.
Dessa forma, a Universal Music será a única operação brasileira da Vivendi, que manterá ainda participações minoritárias na Telefónica Brasil e na Telecom Italia. Para um conglomerado que, além da atuação na área de telecomunicações, já foi dono também no Brasil da distribuidora de filmes Universal Pictures, sobrará apenas a música, setor no qual o País detém um status especial. “Apesar de o setor fonográfico brasileiro ser maduro e um dos dez maiores do mundo, também somos considerados emergentes, devido à nossa classe média em ascensão”, diz Eboli.
Essa dupla posição garante que o executivo seja convidado anualmente para a reunião dos chefes das operações da Universal nos países em desenvolvimento, como Cingapura, China e México, e para os encontros voltados aos grandes centros, como EUA e Inglaterra. A negociação da GVT também significa uma diminuição expressiva do tamanho dos negócios da Vivendi no Brasil. Em conjunto, a GVT e a Universal Music garantiram um faturamento de R$ 5 bilhões para o resultado de € 22,1 bilhões registrado em 2013 pelo conglomerado francês. No entanto, a GVT respondeu por uma receita líquida de R$ 4,86 bilhões, ou seja, 97% do total. Nada que assuste o comando do grupo.
Ao contrário. Segundo Eboli, esse emagrecimento dos negócios é exatamente o que busca o principal acionista individual da Vivendi, Vincent Bolloré. Além de se desfazer da empresa brasileira de telefonia fixa, o grupo passou adiante as operadoras francesa SFR e a marroquina Maroc Telecom. A ordem de Bolloré é focar em entretenimento. A Universal Music, maior empresa de música do mundo, e o Canal+, a produtora e rede de tevê paga francesa, são as joias da coroa. Com esse movimento, o tamanho do grupo deve ser cortado pela metade neste ano, para fechar com um faturamento de € 10,6 bilhões.
Mas, com a entrada esperada de € 6 bilhões no caixa, em 2015, advindos do negócio com a Telefónica, novas mudanças são esperadas no mercado brasileiro. “Imagino que o Brasil seja um país no qual a Vivendi gostaria de crescer”, diz Allan Nichols, analista da empresa de investimentos americana Morningstar. “O grupo terá muito poder de fogo para fazer aquisições.” No entanto, a Universal já é a maior do mundo em música e os órgãos reguladores dos EUA, Europa e Japão dificilmente aprovarão novas fusões, o que deixaria como alternativa a compra de operações menores e regionais, avalia Nichols.
A Universal, a Warner e a Sony são as únicas das “big six”, dos anos 1990, que sobreviveram à onda de consolidação do setor ocorrida desde a passagem do milênio. A atenção exclusiva para a Universal Music no País, sem as distrações de uma operação com o porte da GVT, acontece num momento auspicioso para a subsidiária e para o mercado fonográfico nacional, que sofreu nos últimos 15 anos com a explosão da música pela internet, mas que se recupera. Na nova fase de carreira solo, a Universal Music espera crescer neste ano entre 10% e 12%, enquanto o mercado brasileiro deve se expandir em 5%, em relação aos R$ 374,9 milhões faturados em 2013.
“Tivemos três grandes lançamentos neste ano, com a Ivete Sangalo, com a Marisa Monte e com a Maria Rita”, diz Eboli. E em setembro a empresa ainda anunciou o lançamento de um CD e DVD de duetos da cantora de sertanejo pop Paula Fernandes. É uma promessa de bons resultados. A estrela é responsável pelo último grande fenômeno do mercado brasileiro, ao vender entre 2011 e 2012 mais de dois milhões de cópias de seus trabalhos. Tamanho sucesso foi o suficiente para transformar a intérprete mineira no mais precioso ativo do elenco de 35 artistas e grupos musicais da gravadora no Brasil. Como no caso de muitos músicos que saem em carreira solo, para a Universal Music e para a sua controladora, menos pode ser mais lucrativo.