27/02/2015 - 9:41
A moda italiana viveu seu ápice nos anos 1980. Foi nesse período que Giorgio Armani começou a construir seu império, e grifes cobiçadas como Dolce&Gabbana, Prada, Valentino e Versace dominavam as passarelas internacionais com desenvoltura. Além de glamour, algumas marcas conquistaram mercado e, obviamente, faturavam alto. Um exemplo disso é a fabricante italiana de jeans Carrera, sediada em Verona, a cidade imortalizada por Shakespeare em Romeu e Julieta. A empresa tornou-se a maior fabricante de calças jeans de seu país, título mantido até hoje, com mais de seis milhões de peças por ano.
As vendas foram crescendo na mesma velocidade da popularização da marca, que se tornou também um símbolo da Itália quando o assunto era a tradicional calça azul. “Foram os nossos melhores anos”, disse à DINHEIRO Gianluca Tacchella, CEO da companhia fundada por seu pai e dois tios, todos alfaiates, há 50 anos. De lá para cá, muita coisa mudou na Carrera. A partir dos anos de 1990, os fãs da marca, mais amadurecidos, evidentemente, foram conhecendo e experimentando novas grifes. A queda nas vendas e a alta dos custos resultaram no fechamento de suas 30 fábricas na Itália.
As dificuldades, no entanto, encorajaram a reação da marca. Internamente, a Carrera promoveu, nas últimas duas décadas, uma ampla reformulação da produção, com foco em redução de custos. A confecção migrou da Itália para o Tadjiquistão, na Ásia Central, onde também passou a produzir algodão e a fabricar o próprio denim, tecido do jeans. Paralelamente, houve um intenso trabalho de reposicionamento da marca, na tentativa de atrair novamente o público jovem. Nesse processo, novas fronteiras foram desbravadas, inclusive o Brasil.
Na quarta-feira 4, a Carrera abriu sua primeira loja própria no País, mais especificamente no bairro Jardins, em São Paulo. A flagship brasileira tem a missão de ajudar a grife a turbinar os resultados globais da companhia. No ano passado, a Carrera faturou € 300 milhões e manteve sua liderança no mercado italiano, com participação de 10%. “Há muita oportunidade no Brasil para a Carrera”, afirma Tacchella. Para se adaptar ao gosto do consumidor local e às curvas da mulher brasileira, a empresa italiana decidiu costurar suas peças no Brasil, em vez de importar.
A confecção está a cargo da parceira MHL Empreendimen-tos, que produziu 3,6 milhões de peças em 2014. Além da produção, eles cuidarão da operação comercial no País. “Temos a loja de São Paulo e ainda mais cinco estão programadas para este ano, sendo quatro em shoppings na capital paulista e uma no Rio de Janeiro”, afirma Maher Ayache, sócio da MHL, que é dona das marcas Lemier, M2A e Destroy, todas focadas no vestuário para a classe C. A ideia é expandir a rede Carrera para lojas multimarcas e franquias. A parceria com a marca italiana é vista como uma oportunidade para o empresário brasileiro ampliar seu público consumidor.
“Vamos entrar no mercado de jeans para as classes A e B, que sempre cobiçamos”, diz Ayache. “Com a Carrera, temos, agora, uma marca forte.” A expectativa é de que no primeiro ano o faturamento chegue a R$ 12 milhões. Para a Carrera, essa é uma chance de expandir seu mercado para fora do Velho Continente, aprofundando o movimento de internacionalização em curso. A empresa abriu, recentemente, lojas nos Emirados Árabes, na Holanda e na China. Na terra de Mao Tsé-tung, o desafio de Tacchella é conquistar um parceiro local que conheça profundamente as características do mercado.
“A modelagem é muito diferente, pois na China se trabalha com o que consideramos tamanhos PP a M”, afirma. Ainda na Ásia, a marca opera na Coreia do Sul. “Já somos uma das marcas mais vendidas nesse país”, diz o CEO da Carrera. O contrato com a MHL ainda prevê expansão pelo restante da América Latina, em países ainda não definidos. Segundo Tacchella, o foco da marca italiana é o consumidor de 20 a 30 anos. Para isso, a marca passou por uma renovação, lançando as coleções Play e Travel.
“Mas ainda mantemos o consumidor fiel do Five Poquets, o clássico jeans que fabricamos há 50 anos”, afirma. “Buscamos novos produtos, mas sem perder a nossa identidade”. No País, praticando uma faixa de preço entre R$ 150 e R$ 400, a empresa deve concorrer com marcas como as americanas Calvin Klein, Levi’s e Guess, além da compatriota Diesel. “Não há marcas brasileiras que competem nesse mercado”, afirma Heloísa Omine, sócia-diretora da R2E by Shopfitting, consultoria na área de varejo de vestuário. “Se eles também partirem para atender o público dos 40 anos, deverão ter mais sucesso ainda.”