14/12/2005 - 8:00
Tem neve? Sim. Pinheiros? Sim. Renas? Um monte, em número maior que o de pessoas ? são 200 mil, contra 190 mil habitantes. Então Papai Noel mora lá, em Rovaniemi, capital da Lapônia, província no extremo norte da já setentrional Finlândia. Com um pouco de imaginação, mais uma dose capricho e um minucioso trabalho de construção de uma marca, a cidade virou um dos principais destinos turísticos do mundo na época do Natal. Belém, na Palestina, ainda é a campeã. O local em que teria nascido Jesus Cristo recebe mais de dois milhões de turistas a cada ano. Mas Rovaniemi é cada vez mais procurada. Em dez anos, o turismo ali cresceu 45%. Em 2004, cerca de 300 mil visitantes, 60% estrangeiros, estiveram na Vila do Papai Noel, onde estão a casa, o escritório, o correio e a fábrica de brinquedos, rodeados por muitos pinheiros cobertos neve. Tudo como manda a tradição. Espécie de parque temático, a vila arrecada, sozinha, cerca de e 6,6 milhões por ano. Contando com hotéis, restaurantes, lojas e outros serviços, a cidade de Rovaniemi recolhe em média e 116 milhões. Já é quase um terço de tudo o que movimenta a Lapônia, sendo que a semana do Natal concentra 17% desse total.
Auto-entitulada Capital Mundial do Natal, Rovaniemi é quente nesta época do ano, quando as temperaturas externas podem baixar a 200º C negativos. Localizada a 900 quilômetros ao norte de Helsinque, a capital finlandesa, a terra de Papai Noel é invadida durante o inverno por cerca de 500 mil visitantes, a maior parte deles dispostos a conferir ao vivo a lenda do velhinho que, a partir de um enclave gelado sobre o Círculo Polar Ártico, comanda um conglomerado imaginário composto por uma produtiva fábrica de brinquedos e a mais onipresente empresa de logística do planeta. A população local tratou de tornar a fantasia o mais real possível. Para os turistas, há, além da Vila do Papai Noel ? onde operam mais de 20 companhias internacionais ?, outros dois parques temáticos que exploram Joulupukin, nome do gorducho da barba branca no idioma local. Para a população da Lapônia, pelo menos quatro mil empregos diretos são gerados pela indústria natalina. O aeroporto local recebe, apenas neste período, mais de 200 vôos charter lotados de estrangeiros, sobretudo franceses, ingleses e alemães. Além de visitarem a casa de Papai Noel, eles gastam seus euros em atividades que vão de safáris em trenós puxados por renas e cães da raça husky a pistas de esqui e corridas de snowmobiles.
Foi justamente um desses vôos que deu início à atual fama de Rovaniemi. Isso ocorreu há 21 anos, quando um concorde da British Airways pousou no aeroporto da cidade, depois batizado de Aeroporto Oficial do Papai Noel, com 100 passageiros. Eles seguiam os passos da ex-primeira-dama americana Eleanor Roosevelt, que em 1950 visitou a cidade e tornou-se a precursora do turismo no Círculo Ártico. Em sua homenagem, uma pequena cabine típica foi construída e, transformada em museu, logo virou a grande atração local. A construção da Vila de Papai Noel só aconteceria 35 anos depois e levaria 11 anos para ser concluída. Na esteira do trenó do velhinho, a cidade ganhou notoriedade e novos usos. Ponto privilegiado para a apreciação do fenômeno do sol da meia noite, tranformou-se também em sede de uma série de laboratórios científicos e, pela natural adversidade climática, atraiu montadoras a montarem campos de testes para checar como seus motores e pneus se comportam em condições extremas.
Pelo frio ou pelo calor, com ou sem Papai Noel, o turismo na Finlândia cresce. No total, passaram por lá 4,9 milhões de turistas em 2004, 6% a mais que no ano anterior. A contribuição de Noel para essa prosperidade é indiscutível. Sua popularidade está em alta. Em 1994, ele recebeu 216 mil cartas provenientes de 150 países. Em 2004, foram quase 500 mil correspondências de 191 países. Papai Noel existe? Com certeza.
Natal com Papai Noel
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