No início dos anos de 1980, aos 28 anos, o japonês Kikuo Ibe teve uma das maiores tristezas de sua vida. O relógio que lhe foi dado por seu pai se espatifou no chão. A decepção pessoal o inspirou a começar um negócio. Ibe decidiu criar um relógio “inquebrável”. Foi assim que, em 1983, dois anos depois do episódio, nasceu o G-Shock, o popular modelo da fabricante japonesa Casio, famoso pela resistência a impactos. O acessório, pau para toda obra, logo caiu nas graças de militares, policiais, bombeiros e até astronautas. Com o passar dos anos, o relógio ganhou um apelo fashion e incorporou um visual mais robusto, se tornando um verdadeiro ícone cultural daquela década, presente na moda, na música, no cinema e também nos esportes. 

 

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O estilo Kesha: cantora americana é garota-propaganda

da linha G-Shock entre os jovens

 

“Muitas vezes imitado, mas nunca realmente copiado, o G-Shock é uma marca que não parou de evoluir”, definiu a revista americana Vogue. Ao longo das últimas três décadas, o relógio ganhou uma infinidade de versões – são mais de mil atualmente. Algumas foram desenhadas por designers renomados, como o polonês Filip Pagowski e o americano Eric Haze. Os novos recursos e as cores chamativas atraíram, de forma espontânea, uma legião de fãs anônimos e também famosos, que poderiam facilmente exibir no pulso um Rolex, um Patek Philippe ou um IWC, caso quisessem. O príncipe inglês Harry e o jogador de futebol Marcelo, da seleção brasileira e do Real Madrid, por exemplo, já foram fotografados usando um Casio.

 

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Masakazu Hirano: CEO para a região promete investir

R$ 10 milhões em ações no Brasil

 

Detalhe: eles não receberam cachê para exibir os modelos da marca. Associar-se a celebridades da música, como o rapper Eminem, Justin Bieber, as cantoras Kesha e Rihanna, de 24 anos, eleita recentemente pela revista americana Forbes a popstar mais poderosa das redes sociais, com mais de 60 milhões de seguidores, tem sido uma das principais estratégias da Casio ao longo dos últimos anos e fundamental para sua sobrevivência. As vendas da empresa não param de cair – baixaram de US$ 7,9 bilhões, em 2008, para US$ 3,8 bilhões, no último ano.Por essa razão, a estratégia de vincular sua imagem às celebridades – que deu certo lá fora, e fez com que as vendas de relógios aumentassem 1.200% nos EUA entre 2008 e 2011 – deverá ser replicada no País. 

 

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“Associar a marca a grandes nomes, como fez a Casio com o piloto de Fórmula 1 Sebastian Vettel, tem trazido bons resultados para eles”, diz César Rovel, consultor do mercado de relógios. O Brasil desponta no centro das estratégias globais de recuperação da Casio. Depois de três décadas exportando produtos para o País, por meio de um parceiro, a marca decidiu assumir o controle de sua operação nacional e já prepara a inauguração de 15 lojas próprias até o fim de 2013. A primeira delas, focada na linha de relógios G-Shock, será aberta em São Paulo, já nos próximos meses. A sede da empresa na América Latina também foi transferida de Miami para São Paulo. 

 

A fabricação local de produtos não está descartada. Em novembro, a Casio irá realizar no Rio de Janeiro a maior edição local da festa Shock the World. “Vamos fazer bastante barulho no Brasil”, afirma Masakazu Hirano, presidente para a América Latina da Casio, que promete investir cerca de US$ 10 milhões para reposicionar a marca no País. O executivo afirma que a participação tímida do mercado brasileiro nos negócios globais deve quintuplicar nos próximos dois anos, passando do atual 1% para, pelo menos, 5%. Com o “inquebrável” G-Shock, que no Brasil custa entre R$ 300 e R$ 1,7 mil, a Casio terá de estancar a queda de suas vendas, reinventar-se e, assim, evitar a sua própria quebra.

 

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