Há, neste momento, dois fenômenos econômicos em curso que dizem muito a respeito do grau de estabilidade e maturidade da economia brasileira: o acesso das empresas ao mercado de capitais e o robusto crescimento do consumo das famílias.

O acesso ao mercado de capitais demonstra a confiança do empresário em planejar investimentos progressivos, acreditando no crescimento sustentável e de longo prazo. O investidor nacional e estrangeiro sustenta o processo, pois busca rentabilidade na economia real, sabendo que os títulos públicos já não pagam juros de crise.

O resultado desse movimento é a entrada de volumes enormes de recursos nas empresas, melhorando os padrões de governança, potencializando seus investimentos e formalizando suas atividades e a de seus fornecedores, bem como os empregos. E, ainda, aumentando a lucratividade e o pagamento de impostos.

O aumento do consumo das famílias é a outra face desta mesma moeda. Maior estabilidade, inflação baixa, aumento da renda real, crédito amplo e transferências de renda às famílias mais pobres garantem o acesso aos bens necessários.

O mercado de consumo doméstico básico começa a ficar vigoroso em todas as regiões, em particular naquelas antes deprimidas, como é o caso de Estados do Norte e Nordeste, que começam a ser procurados por empresas da construção civil, alimentos e vestuário, entre outros.

Em cinco anos, o Brasil deixou para trás um risco-país de mais de 2.000 pontos para chegar muito perto do chamado grau de investimento. Não será surpresa se ele chegar a isso já em 2008. No final de 2007, por conta da crise do sistema financeiro americano e internacional e pelas incertezas trazidas pela não renovação da CPMF, muitas dúvidas se colocaram sobre essa perspectiva tão positiva. Mas o fato é que a crise de crédito em curso encontrou um país muito mais forte para enfrentá-la. Em outras situações parecidas, no passado recente, era comum o Brasil afundar em crise, com reflexos importantes sobre a dívida pública e a renda das empresas e das famílias. Desta vez, os impactos da crise, embora existam e não sejam desprezíveis, estão fortemente mitigados por uma economia que segue crescendo.

No caso da não renovação da CPMF, a depender da resposta do governo sobre como enfrentar uma restrição nas suas próprias contas, a superação também poderá ocorrer com tranqüilidade. As declarações do ministro Guido Mantega e do próprio presidente Lula, garantindo que as metas fiscais não serão alteradas, são um ponto de partida de maturidade e responsabilidade.

Mas a melhora econômica destes últimos anos não se refletiu apenas no plano interno. O Brasil ampliou muito também sua interlocução no cenário internacional. E isso se deu tanto pela ação comercial e de investimento das empresas brasileiras – muitas das quais se tornaram empresas de porte mundial – como pela ação do governo, que passou a agir mais ativamente nos fóruns multilaterais.

Para a próxima década, essas mudanças farão toda a diferença. Num cenário em que a energia é o insumo mais crítico da economia mundial e a questão do aquecimento global passa a fazer parte da pauta em todas as regiões do planeta, o Brasil pode se apresentar como parceiro para as melhores soluções. Por possuir uma reserva florestal do porte da Amazônia, e por ter desenvolvido, nos últimos 30 anos, a única alternativa economicamente viável aos combustíveis fósseis, o etanol de cana-de-açúcar.

O fato é que, nos últimos anos, o Brasil deixou para trás uma história de crises econômicas intermitentes. Inaugurou um novo período de estabilidade e crescimento, que tem tudo para se tornar longo e sustentável. Esta é uma janela de oportunidade, que não pode ser perdida, em direção à construção de uma nação mais rica e mais justa.