A Alemanha de 1945 não parecia o melhor lugar para alguém investir a poupança ou mesmo arriscar uma tacada empresarial. Afinal, a economia do país estava em frangalhos e sua infra-estrutura, arrasada pelas bombas Aliadas despejadas durante a 2ª Guerra Mundial. Mas essa não era a opinião de Adolf Würth, morador da pequena Künzelsau. Em vez de engrossar o coro dos que lamentavam a desgraça do país, ele subiu em sua carroça e saiu pelas cidades vizinhas à cata de todo tipo de material que pudesse revender: prego, parafuso, porca e peças de reposição para máquinas. Nessa tarefa ele contava apenas com a ajuda da mulher, Alma, e do filho, Reinhold. O incipiente negócio deu origem a uma potência industrial, o Grupo Würth, cujas 330 filiais em 90 países geram receita anual de US$ 8,2 bilhões. Houve uma grande diversificação e a adoção de um modelo de negócio pouco usual ao longo do caminho. Hoje a companhia comercializa cerca de mil itens. São luvas, capacetes, ferramentas e químicos como detergentes para limpeza industrial. Com isso, a marca Würth ficou tão forte que o grupo, curiosamente, passou a terceirizar a fabricação de seus produtos mais prosaicos, tornando-se uma espécie de Nike dos parafusos. A alma do negócio, no entanto, continua a mesma de 60 anos atrás: vender diretamente a empresas e profissionais autônomos itens de baixo valor unitário, mas vitais para equipamentos complexos.

No Brasil, onde opera desde 1972, o modelo criado por Adolf (morto em 1962) deu tão certo que o País desponta como uma das vedetes do conglomerado. O faturamento da subsidiária tem crescido 30% ao ano, e a previsão é fechar 2005 com R$ 150 milhões, o dobro de 2002. ?Com isso vamos ingressar na lista das 10 maiores filiais do grupo no mundo?, festeja César Alberto Ferreira, presidente da Würth do Brasil.

No início do mês, Juan Ramírez Codina, integrante do board mundial da Würth e presidente da filial espanhola, desembarcou em Cotia (SP) para conhecer de perto o que é feito por aqui. ?Estou impressionado?, disse. O sucesso da filial se deve a uma bem estruturada estratégia de distribuição que inclui a entrega dos componentes em até 24 horas. Com isso, os clientes não precisam manter estoque de peças pequenas. Além disso, Ferreira nacionalizou a fabricação dos produtos químicos, garantindo redução em torno de 30% no preço final. E também desenvolveu fornecedores locais para parafusos e porcas. As ferramentas continuam vindo da Alemanha. ?Temos uma tecnologia única que nos permite oferecer dez anos de garantia?, diz Codina.

Para cumprir a meta de crescer 30% também este ano, estão sendo investidos US$ 5 milhões. Valor aparentemente modesto mas expressivo para uma empresa que importa a quase totalidade dos produtos que comercializa. Daí a necessidade de ter um canal de vendas azeitado. O montante será gasto na contratação de mais 200 funcionários para o setor (atualmente são 800 vendedores para um total de 1.030 empregados no País) e na compra de veículos. A Würth também passará a distribuir painéis fotovoltáicos da marca, usados na conversão dos raios solares em energia. ?Estamos de olho nos programas de eletrificação rural nas regiões Norte e Nordeste?, diz Ferreira. São medidas que o mascate Würth assinaria em baixo.

Perfil da gigante alemã

 

Fundação: 1945
Funcionários: 47 mil, sendo 27 mil vendedores
Filiais: 330 em 90 países

No Brasil: uma fábrica no Paraná e cinco centros de distribuição em São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Recife e Manaus 1.030 funcionários e previsão de faturar R$ 150 milhões em 2005