19/02/2009 - 7:00

EM UMA ABAFADA TARDE PAULISTANA, Christian Louboutin parece não se incomodar com o calor. Vestido em um terno xadrez acompanhado por um par de tênis preto e branco com cadarços amarelos, ele é o retrato do despojamento e da excentricidade típica dos artistas. No mezanino do hotel Emiliano, local escolhido pelo designer francês de ascendência vietnamita para fazer o primeiro contato com o público brasileiro, são apresentadas as suas criações, objetos de desejo que seduzem o público feminino. São sapatos e sandálias, todos com saltos altíssimos, e a incomparável sola vermelha que já virou sua marca registrada. “Quando crio, não me preocupo apenas em fazer um sapato bonito”, disse Louboutin à DINHEIRO. “A minha maior preocupação é fazer com as mulheres se sintam bonitas.” Pois agora a preocupação incluirá as brasileiras. Na segunda quinzena de março, ele abre as portas de sua butique no País, a primeira da América Latina, localizada no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Estima-se que Louboutin, o homem que calça beldades como Nicole Kidman, Angelina Jolie e Katie Holmes, tenha investido R$ 1,2 milhão no novo negócio.

A loja de 80 metros quadrados está sendo montada no espaço antes ocupado pela inglesa Burberry, que fechou as portas em dezembro do ano passado. A decoração seguirá os padrões adotados nas outras 16 butiques da marca espalhadas pelo mundo. Na fachada, com detalhes esculpidos em madeira imbuia, serão expostos cerca de 50 modelos escolhidos a dedo pelo próprio. “O Brasil terá peças específicas, com cores fortes”, afirma o designer. O público, definitivamente, também será específico, pois os pares custarão, em média, R$ 3 mil. Nem os preços altos para o mercado brasileiro nem o pessimismo gerado entre os consumidores diante da crise econômica abalam a confiança do designer. “Eu estou vendo o que acontece no resto do mundo, mas isso não é motivo para engavetar os projetos.” Ele pode se dar ao luxo de decidir onde e como o dinheiro da marca será investido porque tem a grife nas mãos. “É bom saber que os grandes grupos do luxo têm interesse na minha marca, mas não quero vender”, explica.

“No Brasil serão vendidas peças específicas, com cores fortes”
LOUBOUTIN
Além da confiança no mercado brasileiro, especula-se que Louboutin teve facilidades para pisar em solo nacional. Comenta-se que o Iguatemi tenha favorecido a vinda do designer abrindo mão da cobrança do ponto-de-venda – uma ação agressiva para fazer frente ao crescimento de seu rival, o Shopping Cidade Jardim. A chegada de Christian Louboutin traz ares de renovação para o Iguatemi, que assistiu a Hermès, um dos mais sólidos nomes do mercado de luxo, correr para os braços do Cidade Jardim. “Ter as peças de Louboutin por aqui representa muito para o mercado brasileiro de moda”, afirma o stylist Márcio Banfi, professor do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina.
Além do Brasil, serão abertas, em 2009, mais cinco lojas, incluindo uma no México e outra em Miami – todas com sapatos confeccionados de modo artesanal, qualidade que tornou a Christian Louboutin uma marca celebrada. “Só abro mais lojas quando sei que sou capaz de manter o alto nível dos produtos”, afirma. Por aqui, a vinda do estilista só reforça a crescente relevância do mercado de luxo brasileiro. “Isso coloca o País na vanguarda”, afirma Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria & Conhecimento. “Mas é importante notar que o nome Louboutin ainda é conhecido por poucos e precisa ser trabalhado aqui.” Isso não preocupa o designer, que espera atrair compradores e curiosos para suas vitrines. “É claro que é necessário vender, mas acho muito importante deixar as pessoas olharem a vitrine e se inspirarem”, afirma. “Também quero agradar aos olhos.”