23/01/2013 - 21:00
As imagens da poluição na China chocaram o mundo nos últimos dias. Fotografada pelos satélites da Nasa, a nuvem de poluentes que ofuscou o Sol em várias cidades roubou da Grande Muralha o status de única construção humana vista do espaço. Máscaras cobriram os rostos de turistas e trabalhadores que ousaram sair às ruas em Pequim e em 12 províncias afetadas seriamente pela perigosa concentração de poluentes, mas não pareciam suficientes para proteger a saúde da maior população do mundo. Na capital, os habitantes foram aconselhados a permanecer em casa.
O apagão do oxigênio na China é uma tragédia ambiental com impacto global. De um lado, prejudica a atmosfera do planeta e ameaça outros países, que sempre lembram do Brasil e da Floresta Amazônica nos intermináveis debates sobre as causas do aquecimento global. De outro, levanta dúvidas quanto à capacidade da maior potência dos Brics de manter elevados níveis de crescimento econômico. Nesse debate, não se trata apenas de discutir se a China deve mudar sua matriz energética, hoje altamente dependente da queima do carvão e do petróleo.
Não se trata apenas de prever se o país irá crescer (ainda fabulosos) 7% ou 8% ao ano por um longo período, puxando para cima os índices de atividade econômica nos outros cantos do mundo. Trata-se, também, de questionar os limites do crescimento. Até que ponto é saudável multiplicar cada vez mais a atividade das empresas e das pessoas, ano após ano, sem tomar as medidas adequadas para controlar as emissões das fábricas e dos automóveis? O aumento da produção e do lucro é necessário para garantir o padrão de vida das sociedades conforme suas populações aumentam e precisam de mais trabalho e demandam serviços públicos de qualidade.
O modelo de crescimento, porém, apoiado na evolução da tecnologia e da produtividade das máquinas e dos trabalhadores não pode passar por cima da sustentabilidade do planeta. O fracasso das conferências globais sobre o clima mostra que os países ricos e os emergentes que mais crescem precisam avançar muito no trato ambiental. Não basta reciclar o lixo ou andar de bicicleta enquanto o carro elétrico não vem. É preciso ir além no controle da poluição das empresas e das massas, encontrar soluções e engajar o setor público e o privado nessa luta. Na distante China ou às margens do Rio Tietê, em São Paulo, o recado está no ar.