24/01/2014 - 21:00
Uma demonstração clara, sem retoques, do atávico pessimismo de analistas – cujas previsões negativas viraram uma espécie de esporte onde o vencedor é o mais radical entre eles – pôde ser vista, mais uma vez, na reação que tiveram diante do anúncio, na semana passada, sobre o PIB da China. O número ficou em torno de 7,7% em 2013. Ou seja, o tigre asiático continuou em compasso firme de avanço, passados anos ininterruptos de crescimento cavalar, PIB sobre PIB. E mesmo assim muitos decretaram que a era de ouro dessa potência havia chegado ao fim. Em Davos, onde a cúpula global da economia se reúne, a expressão mais em uso para classificar o desempenho da locomotiva dos Brics era “crise da meia-idade”.
Uma crise com 7,7% de incremento no PIB quem não quer? Irredutíveis em sua cruzada, economistas apontaram a munição de ataques falando em problemas de competitividade da China (?), de queda da demanda por seus produtos, em aumento do custo da produção local devido a salários mais altos. Em suma, pintaram de negro o horizonte do país. É certo que aquela economia passa por uma espécie de acomodação. Por razões óbvias. O modelo de exportação vem sendo paulatinamente substituído pelo de investimentos no atendimento ao mercado interno, em franca ascensão devido à migração de milhões de habitantes do campo para as grandes metrópoles. Há ajustes nos planos de investimento público.
Projetos de infraestrutura e no setor imobiliário nacional passaram a ser prioridades no orçamento. Os chineses, de uma forma geral, estão comprando mais e consumindo mais insumos básicos. Para se ter uma ideia, o consumo de eletricidade no mercado interno cresceu cerca de 7,6% no ano. A renda continua em alta, com aumento de 7% no período. E, mesmo assim, o que os analistas enxergam são ameaças de bolha imobiliária, de desequilíbrio do sistema financeiro e de colapso do modelo estatal ainda em vigor. Decretaram, quase como torcida organizada, a derrocada do gigante. Esqueceram talvez de verificar que, com todos os percalços, a China continua liderando o crescimento da economia global e servindo de tábua de salvação de boa parte do mundo.