03/09/2020 - 14:05
A modificação genética de embriões humanos não deve ser usada enquanto a ciência não determinar que a técnica não gera mutações inesperadas, considerou nesta quinta-feira (3) uma comissão internacional criada após o nascimento dos primeiros “bebês OGM” na China, em 2018.
Essa comissão, criada pelas Academias de Medicina e de Ciência dos Estados Unidos e da Royal Society do Reino Unido, considerou que o processo “ainda não está pronto” para ser “aprovado como forma segura e eficaz em embriões humanos”, segundo comunicado.
Para esses especialistas, toda autorização deve ser feita de forma “progressiva e prudente”, nas palavras de Richard Lifton, presidente da Universidade Rockefeller (Estados Unidos) e co-presidente da comissão.
Essa última foi formada depois que um pesquisador chinês, He Jiankui, causou um escândalo em novembro de 2018 ao anunciar o nascimento dos dois primeiros bebês geneticamente modificados, dois gêmeos dos quais ele disse ter modificado seu DNA para torná-los resistentes ao vírus da aids, do qual seu pai era portador.
De acordo com a agência nacional de notícias Xinhua, um terceiro bebê nasceu depois com DNA modificado.
O cientista, que dirigia um laboratório em Shenzhen, no sul da China, foi demitido e condenado a três anos de prisão por “manipulação genética ilegal de embriões para fins reprodutivos”.
Esse cientista afirmou ter utilizado a técnica CRISPR-Cas9, que revolucionou a medicina genômica nos últimos anos. Essas “tesouras genéticas” permitem substituir partes do genoma, da mesma forma que você corrige um erro tipográfico em um computador.
Mais barata e mais simples do que as técnicas usadas atualmente, essa técnica é um assunto polêmico em debates.
Embora tenha havido unanimidade contra a experiência de He Jiankui, principalmente pelo risco de causar efeitos indesejáveis, apenas o princípio de modificar o genoma humano por motivos médicos já divide cientistas e médicos.
Em março de 2019, um grupo de alto nível de cientistas pediu uma moratória sobre essas técnicas, mas sua proposta foi rejeitada por outros cientistas por medo de restringir um campo de pesquisa que levanta grandes esperanças no tratamento das doenças genéticas.
As recomendações da comissão internacional tratam de modificações do DNA de gametas (óvulos e espermatozoides), zigotos e embriões humanos destinados a garantir o bom desenvolvimento de uma gravidez e, portanto, especialmente sensíveis porque podem ser transmitidos às gerações seguintes.
Suas conclusões servirão para alimentar o trabalho de um comitê da OMS sobre o assunto, que publicará suas próprias recomendações antes do final do ano.