Desde sempre, o estilista Tufi Duek é considerado a ?cara? da Forum, marca de jeans criada por ele em 1981. Mas só nos últimos três anos Duek conseguiu fazer da Forum uma empresa à sua imagem e semelhança. Até então, embora ele fosse a face mais visível da companhia, quem comandava as operações (e, por tabela, desenhava a estrutura) era seu irmão e sócio, Isak, dono de metade do negócio. Mas em 2003, aos 50 anos, Isak cumpriu uma antiga promessa: saiu de São Paulo, instalou-se em Florianópolis, abriu um pequeno escritório de gestão de ativos e vendeu sua participação na Forum para o irmão mais famoso. ?A administração ficava por conta do Israel. Sempre fui responsável pela criação?, conta Tufi. ?De uma hora para outra, me vi na condição de gestor.? A partir daí, o estilista passou a imprimir sua própria marca e uma profunda transformação tomou conta da empresa. O quadro de funcionários foi reduzido à metade. O time de gerentes e diretores passou por um processo de renovação. Algumas lojas tiveram suas portas fechadas, enquanto outras eram inauguradas. Franquias da marca em locais nobres foram assumidas pela própria empresa. ?Tínhamos uma cultura industrial?, diz Tufi. ?Precisávamos nos tornar uma empresa de gestão de marcas.?

Duek conduz essa reviravolta com os olhos voltados para 2010. Nesse ano, a Forum planeja registrar um faturamento anual três vezes superior ao atual. Ele não revela números, mas, segundo estimativas do mercado, esse valor encontra-se hoje na casa dos US$ 250 milhões. Dona de um porte avantajado, a companhia partirá, então, para o objetivo número um de sua estratégia: ir ao mercado de capitais. ?Antes, porém, precisamos nos adequar à nova realidade do mercado?, diz Duek. Em seu dicionário, ?adequar-se à nova realidade do mercado? significa percorrer caminho semelhante ao do LVMH, um guarda-chuva de grifes consagradas como Louis Vuitton, Moet et Chandon, Chistian Dior, entre outras. Pesquisas encomendadas pela companhia identificaram na Forum uma marca forte e desejada pelos consumidores, porém difusa. ?Uma mesma loja abrigava jeans femininos e masculinos, vestidos para noite e roupas para o dia-a-dia. Era um universo amplo demais?, analisa Duek. A partir dessa constatação, a Forum foi desmembrada e deu origem a três novas assinaturas. Uma delas, a Tufi Duek, terá uma, e apenas uma, loja: será no bairro dos Jardins, em São Paulo, endereço obrigatório para as mais sofisticadas grifes do País. Seu foco será a exclusividade do prêt-à-porter feminino.

A marca Forum permanecerá com o conceito que Tufi chama de ?acessibilidade?. Ou seja, lojas grandes e espaçosas que permitam trânsito intenso de consumidores entre 20 e 35 anos em busca de jeans e roupas para o dia-a-dia. A terceira nova grife unirá os nomes das duas outras, Forum Tufi Duek, e seu posicionamento situa-se em algum ponto intermediário entre elas. ?Não é exclusiva como a Tufi Duek, mas se caracterizará pela seletividade?, diz Vicente Mello. Mais duas grifes completam o portifólio de Duek: a Triton, voltada para jovens de 15 a 25 anos, e a Carina Duek, criada por filha e incorporada ao grupo. Nos planos da Forum, o guarda-chuva possui amplitude suficiente para abrigar mais negócios. O alvo são as marcas de jovens estilistas já com certa projeção, mas sem fôlego para crescer rapidamente. ?A idéia é incorporar a marca, desde que seu criador venha junto?, explica Duek.

Antes de implodir a Forum em diversas grifes, a companhia fez um dever de casa. Toda a produção de roupas foi terceirizada para fornecedores. A Forum assumiu o papel de uma gestora de marca. Com isso, criou-se uma contradição no interior da organização. Equipes com cultura industrial à frente de uma empresa predominantemente voltada para o marketing. Duek agiu cirurgicamente. Um terço do time de 60 executivos foi substituído por profissionais com perfil voltado para o mercado. Entre eles, trouxe Vicente Mello, com passagens pela Promon e pela Natura, para assumir a diretoria geral. Duek continua como presidente, mas direcionará sua energia sobretudo para a diretoria de criação, sob seu comando.

Duek também redesenhou sua rede de lojas. No pico, a empresa possuía 67 endereços exclusivos, entre próprios e franqueados. Hoje, são 51, mas em fase de expansão. Aos mesmo tempo, o empresário desembolsou alguns milhões de reais para adquirir 10 lojas das mãos de franqueados. O objetivo é alimentar o faturamento com vistas à abertura de capital. Essa também é a motivação de um outro movimento da empresa. No próximo ano, pela primeira vez, a empresa desfilará na Semana de Moda de Nova York, o principal evento do setor no mundo, em volume de negócios. Em 2008, a marca Tufi Duek fincará sua bandeira na cidade numa loja exclusiva. A partir dessa base, Mello acredita que multiplicará o atual volume de exportação da companhia de US$ 2,5 milhões anuais. ?Será um crescimento muito superior ao do faturamento?, diz Mello, sem revelar números. Lá fora, o grupo sempre aparecerá identificado como Tufi Duek. ?O nome do estilista é o que vale no mercado internacional de moda: Ralph Loren, Giorgio Armani, Chanel?, afirma Duek. ?E é assim que nos tornaremos o grupo brasileiro de moda mais importante no mundo.?