Praticamente impossível olhar para o prédio da Secretaria do Turismo da cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, e não remontar o pensamento ao passado. Afinal, trata-se de um edifício construído em 1720, com sacadas de ferro batido e sótão, que abrigou durante anos a sede da Prefeitura Municipal. Faz parte do conjunto arquitetônico da cidade tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938. É o único casarão de Tiradentes com três andares. Apesar de todas essas características, o icônico prédio azul e branco é um marco futurista por ser um dos principais pontos de disseminação tecnológica da cidade de 305 anos, com 8 mil habitantes e que recebe anualmente 300 mil turistas.

A última janela à direita, do terceiro andar, é a saída para a conectividade da região por meio de antenas camufladas, abrigadas no último pavimento da construção histórica.

O projeto especial foi montado em 2016 pela empresa porto-riquenha QMC Telecom e garante a cobertura de internet da área central do município. Os equipamentos estão em um cômodo adaptado e são praticamente invisíveis aos olhos dos moradores, trabalhadores e visitantes.

Esse é um das centenas de projetos que a companhia implementou no Brasil nos últimos anos para consolidar-se na liderança em infraestrutura indoor para telecomunicações na América Latina.

O avanço neste momento tem sido em projetos relacionados ao 5G ­— o prédio histórico de Tiradentes está preparado para receber a partir da demanda das operadoras de telefonia móvel.

A QMC Telecom tem por trás os fundos Housatonic, Accel Partners, Quadrant Capital, TTCER Partners e US$ 200 milhões em crédito já tomado para a construção de novas redes no País.

Companhias como a QMC são conhecidas como neutral hosts. Surgiram para preencher uma lacuna do mercado de telecomunicações, em que as gigantes do setor eram responsáveis pela própria infraestrutura e deixaram de investir em equipamentos por ser muito custoso e pela disputa de espaço com as concorrentes.

Portanto, o modelo de negócio da QMC é B2B, com clientes como Claro e Vivo. São elas que demandam a companhia para montar as infraestruturas, como torres, antenas e aparelhos receptores.

“As empresas de telecom têm aumentado a demanda por tráfego entre 30% e 40%, mas não possuem capacidade de investimento nesse mesmo porcentual. Com Capex limitado delas, nós atendemos essa necessidade”, disse à DINHEIRO Murilo Almeida, presidente da QMC Telecom no Brasil.

O projeto da cidade de Tiradentes faz parte da linha de soluções outdoor da empresa. Nesse nicho, ela oferece um conjunto de soluções de infraestrutura que envolvem a construção e gerenciamento de torres built-to-suit e situações especiais camufladas, a fim de solucionar problemas de cobertura celular em regiões com dificuldades de regularização.

Outro projeto especial realizado pela empresa está na Costa do Descobrimento, zona turística localizada no sul da Bahia e que compreende os municípios de Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Belmonte. A proposta de camuflagem foi elaborar estruturas disfarçadas que se confundem com a paisagem natural. O projeto foi aprovado pelas autoridades municipais e órgãos que cuidam de preservação ambiental.

INDOOR

Há outras duas linhas de negócios da QMC Telecom.

A SLS (Street Level Solution), de infraestrutura integrada que garante a conectividade de alto desempenho em áreas com alta densidade urbana, utiliza mobiliário urbano para interligar as redes através de fibra ótica — como pontos de ônibus e bancas de jornal na Avenida Faria Lima, em São Paulo.

E a terceira linha é a de soluções indoor, com sistema de antenas distribuídas chamado DAS (Distributed Antenna Systems), ideal para o crescimento do volume de consumo de dados móveis em ambientes internos, como shoppings, hotéis, hospitais, e prédios comerciais.

Nas três linhas de negócios, a QMC possui 3,4 mil ativos, sendo 70% deles no Brasil. Além da matriz em Porto Rico e da principal operação em território brasileiro, a companhia atua em outros quatro países:
* México,

* Colômbia,
* Chile,
* Peru.

Apesar dos projetos especiais outdoor terem notoriedade, é no 5G indoor que a empresa observa sua estrada de crescimento. Atualmente são mais de 60 projetos entre shoppings, hospitais, universidades e aeroportos para a implantação da quinta geração de internet, que tem avançado no País.

O Aeroporto de Confins (BH Airport), Hospital Vila Nova Star (SP), Hotel Bourbon Curitiba (PR) e Shopping RioSul (RJ) são alguns dos locais em que a QMC tem atuado para disponibilizar sinal 5G indoor nos próximos meses. Os projetos já estão contratados pelas teles e em fase de implantação pela empresa.

A ativação do 5G no Brasil completou um ano no dia 6 de julho. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), já está em operação em 184 municípios — no total, são 1.712 cidades autorizadas para receber a tecnologia. As prestadoras de telefonia móvel vencedoras do leilão deveriam ter ativado até dezembro 1.896 estações apenas em capitais. Porém, o número é mais de cinco vezes maior, chegando a 9.481 estações. A quantidade já ultrapassa os compromissos de adensamento definidos para julho de 2024.

Para usufruir da tecnologia, o usuário deve possuir aparelho compatível e possuir plano de serviço que inclua o 5G. Atualmente são 10,1 milhões de consumidores que utilizam a tecnologia. Os dados mostram que o avanço rápido e em massa da quinta geração de internet tem evoluído para casos mais usuais, por parte de pessoas físicas.

Os casos mais complexos, que envolvem IoT (internet da coisas), cirurgias médicas feitas por robôs e soluções para o agronegócio têm evoluído, mas não na mesma velocidade e abrangência. “Estamos observando um crescente interesse por toda a América Latina em reforçar a cobertura indoor. Nossos projetos em andamento reforçam essa percepção”, disse Almeida.

Levantamento feito pela GfK, empresa alemã de estudos e análise de mercado, mostra que as vendas de smartphones 5G no Brasil cresceram 113% no primeiro semestre de 2023. Esse movimento ocorre justamente por conta da ampliação da disponibilidade de rede para a população, segundo Fernando Baialuna, diretor de Consultoria e Varejo da GfK para América Latina.

“Até o próximo ano a gente vai ter uma escalada”, disse o especialista. “Agora, cabe tanto à indústria quanto ao varejo trabalhar em uma comunicação efetiva para fazer com que o consumidor compreenda o real benefício do 5G na sua vida. Temos aí uma oportunidade de crescimento muito latente para o setor”, afirmou Baialuna.

Existem atualmente no País 125 modelos de smartphones 5G homologados pela Anatel.