28/06/2013 - 6:09
Após assumir o controle da CCE, do empresário Isaac Sverner, por US$ 147 milhões, no ano passado, a chinesa Lenovo finalmente conseguiu chegar ao topo do mercado global de PCs. O problema é que essa distinção foi agridoce, tal uma vitória de um campeonato de futebol da série B. A empresa conquistou o primeiro lugar em um período de declínio generalizado desse mercado, que caiu só no primeiro trimestre deste ano 14%, de acordo com a consultoria IDC. A solução foi buscar uma reinvenção e tentar encontrar um lugar no setor onde estão os grandes negócios de tecnologia atualmente: tablets e smartphones.
Expansão: a Lenovo, comandada no Brasil pelo americano
Dan Stone, já investiu US$ 400 milhões no País e garante
que isso é só o começo
Na China, a Lenovo fez a opção preferencial pelos abonados, investindo em produtos de alto valor agregado, para disputar mercado com Apple e Samsung. No outro lado do globo, a estratégia foi inversa. A empresa resolveu apostar em celulares e tablets de baixo custo, tentando surfar na onda do crescimento de renda da nova classe média brasileira. Não por acaso, essa linha de entrada, anunciada na semana passada em são Paulo, terá estampado o logotipo da CCE, a mais identificada com essa faixa de consumidores. A ideia é preservar a marca Lenovo para os produtos premium, que passarão a ser fabricados no Brasil a partir de 2014. A vida da Lenovo, no entanto, não vai ser nada fácil.
Empresas como as coreanas LG e Samsung contam com um robusto portfólio de produtos para esse segmento do setor. O jeito para a chinesa chegar com força no mercado brasileiro foi fazer uma conexão com os EUA. Para ganhar tempo, a CCE licenciou no ano passado tecnologias da americana Qualcomm, líder mundial no mercado de chips para dispositivos móveis. Os contratos são sigilosos, mas é sabido no mercado que a Qualcomm tem importantes registros de propriedade intelectual na área de transmissão de dados para a frequência 3G. No começo do mês passado, as empresas estreitaram ainda mais os laços com o anúncio de uma parceria para a fabricação de tablets de sete e dez polegadas com a marca CCE, usando o programa Reference Design (design de referência, em português).
?O desenvolvimento desse programa para tablets foi todo feito no Brasil?, afirma Roberto Medeiros, diretor de desenvolvimento de negócios da Qualcomm América Latina. Segundo ele, o desenvolvimento foi feito no Brasil em razão do forte potencial do mercado ? a IDC estima vendas de 6 milhões de unidades neste ano no País. Com essa parceria, a fabricante de chips fornece à brasileira a ?receita do bolo? para fazer o aparelho, usando como ingrediente principal os chips da Qualcomm. Os quatro smartphones e dois tablets que a CCE lança nessa ?estreia? têm chips da Qualcomm e chegam ao mercado de forma escalonada até setembro. Os novos aparelhos serão produzidos na fábrica da Lenovo em Itu (SP), que recebeu investimento de US$ 30 milhões em 2012, e foi inaugurada em janeiro deste ano nas instalações que a CCE já mantinha em Manaus.
A CCE foi a primeira a anunciar produtos usando o Reference Design da Qualcomm para tablets. Nos bastidores do acordo, comenta-se que a aproximação foi facilitada em razão de executivos terem feito carreira nos EUA. O presidente da Lenovo no Brasil, Dan Stone, por exemplo, é israelense formado na universidade americana Harvard Business School. Ele morou por dez anos nos EUA. A proximidade porém não significa exclusividade. A Qualcomm diz estar negociando com outras empresas, embora não revele quais. Enquanto os concorrentes não vêm, a CCE investirá pesado em mídia. O slogan da empresa será ?do jeito que você quer?. De acordo com o diretor de marketing da Lenovo no Brasil, Humberto de Biase, a empresa pesquisou com afinco o gosto do consumidor brasileiro. ?Nossos aparelhos vêm com um número considerável de aplicativos desenhados para o Brasil?, afirma.
A Lenovo reconhece que a marca tinha uma forte rejeição ? traduzida pela piada de que a sigla CCE significa Conserta, Conserta e Estraga. ?Estamos agregando a tecnologia da Lenovo e o conhecimento da Qualcomm para que a gigante CCE acordasse de vez?, diz. De Biase ainda revela que a volta da CCE prepara o terreno para a chegada de TVs, smartphones e tablets da marca Lenovo. Esses aparelhos terão fabricação local. ?Nos últimos 12 meses, a Lenovo investiu cerca de US$ 400 milhões no mercado brasileiro e a tendência é que esse número cresça?, diz ele. ?Não está para brincadeira.? A empresa está disposta agora a disputar os troféus mais cobiçados do mercado.