Por Celso Masson

É uma notícia de tirar o sono. Ao menos para quem ocupa a presidência para América Latina de marcas automotivas como Audi, Jaguar Land Rover, Lexus, Mercedes-Benz e Volvo. Depois de fechar o mês de dezembro com o melhor resultado de sua história na América Latina, o BMW Group coroou a liderança em vendas no segmento premium regional pelo sexto ano consecutivo. Somando as vendas de BMW e MINI, foram 48.577 unidades, 8% a mais que em 2022.

No caso específico dos veículos de alto luxo, nicho em que a base menor de clientes é compensada pelo alto valor unitário, o crescimento em 2023 foi muito superior: 59% acima do total registrado no ano anterior.

Para o CEO e presidente do BMW Group América Latina, Reiner Braun, o resultado se deve a uma combinação de fatores. “Nosso sucesso contínuo é impulsionado por uma equipe altamente dedicada, uma rede de concessionários e importadores comprometida com a excelência, uma linha de produtos de alta tecnologia e uma forte presença local com fábricas no México e no Brasil”, afirmou, em entrevista exclusiva à DINHEIRO e à Motor Show, também pertencente à Editora Três.

Segundo Braun, um em cada três veículos premium vendidos na região é BMW. A marca bávara também liderou as vendas do segmento no Brasil, com 15.113 unidades entregues (9% a mais que em 2022) e 1.573 veículos MINI, de origem britânica (24% a mais que no ano anterior). Assim como a conterrânea Rolls-Royce, a MINI pertence ao conglomerado BMG Group.

Na avaliação de Braun, a liderança folgada em vendas na região também se deve ao compromisso da montadora com a eletromobilidade, principal tendência do mercado global no último ano e que no Brasil começou a ganhar maior relevância principalmente após a chegada de novas marcas chinesas, capazes de oferecer produtos a preços mais condizentes com o mercado local.

No caso da BMW, foram 11.708 automóveis elétricos e híbridos plug-in entregues na América Latina (28% a mais que em 2022). “Um em cada quatro veículos BMW e MINI vendidos na região em 2023 é um modelo eletrificado”, disse o executivo. “Nossa estratégia de abertura tecnológica nos permite oferecer o que nossos clientes procuram, seja um modelo puramente elétrico, um híbrido plug-in ou um motor de combustão interna.”

Modelo MINI com visual customizado em uma ação global de reforço da marca. As vendas no Brasil cresceram 24% em 2023 comparadas ao ano anterior

Para suprir a demanda por recarga, uma preocupação legítima do consumidor brasileiro, o grupo alemão tem apoiado o desenvolvimento da infraestrutura de carregamento público por meio de parcerias, além de suprir seus clientes com soluções individuais. “Todos nossos veículos elétricos e híbridos são entregues com dispositivos de recarga. Esperamos alcançar num futuro próximo a entrega de 50 mil carregadores pessoais na nossa região desde o início da nossa oferta de eletromobilidade, em 2014”, afirmou o executivo, que vive no México.

A propulsão elétrica foi um dos fatores a impulsionar as vendas do BMW X1, excepcionalmente bem recebido com um total de 9.151 unidades vendidas.

Com isso, o SUV superou a perfomance na região do carro que define por excelência o conceito de sedã esportivo, o BMW Série 3.

Apesar de manter sua posição como um dos favoritos entre os clientes latino-americanos, ele ficou em segundo lugar nas vendas da montadora em 2023, com 7.827 unidades.

De acordo com Braun, o Série 3 é um produto-chave para a América Latina. A ponto de ser produzido em duas fábricas da região: em San Luis Potosí, no México (para os mercados globais), e em Araquari (SC), apenas para o Brasil.

INOVAÇÃO

Enquanto o fundador da Tesla, Elon Musk, aponta o dedo para a China como grande vilã da indústria automobilística dos Estados Unidos, a BMW tem adotado postura contrária, valendo-se do alto desempenho do gigante asiático não apenas na área de manufatura como também em pesquisa e desenvolvimento.

Recentemente, o conglomerado alemão inaugurou um novo estúdio de inovação, o Designworks, no distrito de West Bund, no centro econômico de Xangai, na China. A estratégia da montadora é reunir a experiência em design e o desenvolvimento em um único local para acelerar e melhorar o intercâmbio em todo o processo de criação de produtos.

Os resultados dessa integração aparecem tanto em modelos voltados para o mercado chinês quanto em inovações que podem ser aplicadas a todas as plantas do grupo.

No início de janeiro, durante o evento de tecnologia CES 2024, em Las Vegas, nos EUA, a montadora apresentou alguns de seus insights para a mobilidade digitalizada do futuro:
integração de óculos de realidade aumentada na experiência de condução,
estacionamento a distância,
e inteligência artificial generativa para assistentes de voz no carro.

Os visitantes da CES puderam comandar remotamente um BMW iX e guiá-lo pelo local da exposição, descobrir (apenas na condição de passageiro) o potencial oferecido pelos óculos de realidade aumentada durante uma viagem e testar a capacidade generativa de IA do BMW Intelligent Personal Assistant alimentado pelo Alexa large language model (LLM).

(Divulgação)
Parte da equipe do estúdio Designworks(acima), em Xangai, na China. A busca da BMW por inovação tem levado a projetos disruptivos como o Vision Neue Klasse, baseado em eficiência energética, direção intuitiva e economia circular

A BMW tem apresentado protótipos com tecnologias disruptivas, como foi o caso da pintura que permite a mudança de cor da carroceria e da grade frontal construída com material capaz de se autorregenerar ao sofrer pequenas colisões.

Segundo Braun, essas inovações têm como foco deixar o carro cada vez mais resistente a danos e, ao mesmo tempo, melhorar a segurança dos passageiros. “Se você tem uma carroceria que absorve impactos e consegue voltar à forma original, obviamente é uma vantagem na perspectiva do cliente”, afirmou, sem precisar quando esse material poderá ser incorporado a uma linha de produção em série. “Provavelmente no futuro o carro parecerá totalmente diferente do que conhecemos hoje”.

48.577
novos veículos BMW e MINI foram vendidos na América Latina em 2023

59%
foi o aumento das vendas dos modelos de alto luxo em relação a 2022

Até que isso ocorra, a marca trabalha no desenvolvimento daquilo que pode facilitar a rotina do motorista. É isso que promete a parceria recém-firmada com a Valeo para o desenvolvimento conjunto de um sistema de estacionamento automatizado de próxima geração.

Por meio dele, será possível descer do veículo para que ele procure sozinho por uma vaga. As aplicações futuras para essa tecnologia incluem estacionamento em eventos, aeroportos e no setor logístico. “O avanço da tecnologia que vemos neste momento é a capacidade digital que temos agora. Os carros do futuro terão não apenas uma aparência diferente como também recursos que irão proporcionar maior conforto e segurança, baseados em robótica de IA, que são os grandes temas do momento em qualquer indústria”, afirmou Braun.

EFICIÊNCIA

Uma pista da aparência que os carros poderão ter em um futuro não tão distante é o modelo Vision Neue Klasse. Segundo a montadora, ele foi desenvolvido a partir de três pilares:
• eficiência energética,
• direção intuitiva,
• e economia circular.

A proposta é oferecer 30% mais autonomia em relação aos modelos em produção, com carregamento 30% mais rápido. Para os ocupantes, a ideia é fundir os mundos real e virtual em uma condução mais cômoda e segura.

Já o cuidado com a sustentabilidade resultou na aplicação de conceitos avançados de reciclagem, desde o desenvolvimento de novos materiais até o reaproveitamento de mais partes após o ciclo de utilização. Essa visão de futuro, evidentemente, está embalada em um visual audacioso, que lembra filmes de ficção científica. O modelo chegará ao mercado em 2025. É provável que até lá a BMW se mantenha bem à frente da concorrência. Ao menos na América Latina.

Entrevista
Reiner Braun, presidente e CEO BMW América Latina

O que a BMW faz de diferente da concorrência para vender tanto?
Acredito que a liderança em vendas na região, com 34% de participação, se deva à estratégia de crescimento implementada para esse mercado. São basicamente quatro pilares, em que eu destacaria o conceito de tecnologia aberta. Evoluímos para a eletrificação, mas mantivemos um sistema flexível que nos permite produzir na mesma linha motores a combustão e híbridos. Também nos dedicamos a processos que ajudam a construir marcas, atuando fortemente junto à rede de concessionárias. Em terceiro lugar, para melhor a experiência do cliente, investimos em digitalização e conectividade, oferecendo, por exemplo, serviços de manutenção de assistência rodoviária. Por fim, eu destacaria a vantagem de termos três fábricas na América Latina, que respondem por 10% da produção global do BMW Group e nos deixa muito próximos de nossos revendedores e clientes.

Qual a importância do Brasil para o resultado obtido na região?
O Brasil é nosso principal mercado na América Latina. Estamos no País desde 1995 e inauguramos nossa fábrica em Araquari (SC) em 2014. Nela produzimos modelos líderes em seus segmentos, como BMW X1 e Série 3. No ano passado, as vendas da marca BMW tiveram alta de 9% em relação a 2022, com mais de 15 mil veículos entregues. No caso da MINI, as vendas foram 24% maiores. Olhamos com muita confiança o potencial de crescimento em 2024.

Como avalia o pacote de incentivos de R$ 19 bilhões do governo brasileiro para o setor?
Apreciamos o fato de o governo brasileiro estar disposto a estimular a indústria automotiva. Há muitas oportunidades que ajudam a fortalecer a produção local e a criar empregos. O anúncio desse plano foi muito bem recebido pelo setor e pelo BMW Group.