Um dos termômetros mais precisos da atividade econômica é, sem dúvida, o setor de rodovias. Se a produção e o consumo caem, há menos carros e caminhões, na mesma proporção, cruzando as praças de pedágio. Resultado: as concessionárias que administram as estradas faturam menos. No entanto, a segunda maior do setor no País, a Arteris, que opera nove rodovias, entre elas a Régis Bittencourt e a Fernão Dias, encontrou um caminho para desviar dos efeitos da recessão.

A empresa, cujo faturamento atingiu R$ 4 bilhões no ano passado, crescimento de 19% ante 2013, tem colocado em prática um forte programa de redução de custos. Em dois anos, a companhia conseguiu reduzir 9,6% dos seus gastos operacionais fixos, uma economia de R$ 434 milhões. O “ajuste fiscal” atingiu desde a contratação de serviços terceirizados até a compra de materiais como lápis, canetas e papel. “Desenvolvemos um sistema inédito de compras por meio de leilão, uma inovação que sempre nos garante o melhor preço”, afirma o espanhol David Díaz, presidente da Arteris.

“Com inteligência, economizamos R$ 1,4 milhão apenas com material de escritório.” Pode parecer pouco, mas não é. O valor poupado equivale à passagem de cerca de 110 mil carros de passeio na Régis Bittencourt, onde a soma dos seus oito pedágios do trajeto chega a R$ 12. “Com o ajuste, ficamos menos dependentes dos carros de passeio, que tiveram uma queda de 2,9% de janeiro a junho”, diz Díaz. A queda no tráfego impediu que todas as empresas do setor tivessem ganhos acima da inflação em 12 meses. Para estancar mais as perdas, a Arteris conseguiu rever despesas com obras de melhoria e ampliação das pistas que administra.

Um exemplo disso é o trecho de 40 quilômetros na Serra do Cafezal, no Sul do Estado de São Paulo, em obras até o final de 2016. A concessionária reduziu em 10% o orçamento inicial, que agora está em R$ 70,2 milhões. “Com a crise, passamos a negociar melhor os prazos com os fornecedores e os atrasos praticamente cessaram”, garante Díaz. Com uma estrutura mais enxuta, a Arteris acredita que terá mais chances de disputar as obras do Programa de Investimento em Logística (PIL).

A empresa está de olho em cinco trechos, o que representa um investimento de R$ 5,2 bilhões. “Elas trarão sinergia para nós, especialmente a duplicação da BR-116, em Santa Catarina”, diz. Na região Sul, a concessionária controla duas rodovias, a própria BR-116 e a BR-376. A concorrência será pesada. “O governo melhorou a taxa de retorno para os investidores”, diz Fernando Marcato, sócio da consultoria GO Associados. “Existem rodovias bem atraentes para o investimento.”