Em menos de cinco anos, a indústria farmacêutica mundial poderá ver US$ 72 bilhões de suas receitas evaporarem. O cálculo, feito pelo Instituto IMS-Health, leva em conta uma questão simples e cíclica do setor: a perda de patentes. No período 2005 – 2009, várias moléculas de medicamentos poderosos, que rendem bilhões aos seus fabricantes, terão suas patentes vencidas e poderão ser exploradas livremente no mercado. Nesta lista estão os princípios ativos do redutor de colesterol Zocor e do Fosamax, que combate a osteoporose ? ambos feitos pela Merck Sharp&Dohme (MSD). Também há, entre outras centenas de moléculas, a do Norvasc, anti-hipertensivo da Pfizer, e a do Risperdal, da Janssen, indicado para esquizofrenia. São drogas que movimentam mais de US$ 2 bilhões ao ano ? o Zocor, por exemplo, rende US$ 4 bilhões à MSD. De tempos em tempos, a indústria se depara com o problema. A diferença agora é que a onda de vencimento de patentes atingiu, ao mesmo tempo, substâncias-chave para os grandes laboratórios. Infeliz coincidência para uns, feliz para outros. A saída? ?Novos produtos poderosos que cubram as perdas?, diz Tadeu Alves, presidente da MSD do Brasil.

A empresa, segundo o mesmo estudo do IMS-Health, é uma das mais afetadas por esse cenário. O índice de ?vendas em risco? no período de 2005 a 2009 é de 39% de suas receitas, o equivalente a US$ 8,5 bilhões. Um duro golpe para um grupo que ainda enfrenta os custos de vários processos judiciais contra o antiinflamatórioVioxx, retirado do mercado em 2004. O problema fica ainda mais sério com um recente veredicto de Wall Street: se a MSD quiser ver seus acionistas felizes e suas ações bem cotadas até o final da década terá de agregar US$ 20 bilhões ao faturamento que tem hoje (US$ 22 bilhões). Portanto, mãos à obra. Neste ano, o laboratório já obteve nos EUA a aprovação para o Gardasil, vacina contra o câncer de colo de útero; para o Rotateq (rotavírus) e para o antiinflamatório Arcoxia. Em fase de aprovação está o Janúvia (contra diabetes). O Gardasil foi liberado no Brasil nesta semana e o mesmo deve acontecer, em breve, com o Januvia. ?São medicamentos com grande potencial de vendas?, conta Alves. ?A MSD tem ao todo 49 produtos em fase de testes.? O problema é que de cada dez mil moléculas que a indústria descobre apenas 250 vão a estudos clínicos. Dessas 250, só uma chega ao mercado. O jogo é pesado. Gastam-se bilhões em pesquisas que podem culminar em um estrondoso sucesso de mercado ou em nada. Na MSD, os investimentos chegam a US$ 4 bilhões ao ano.

Além dos esforços em laboratórios próprios, o grupo está de olho no ?pipeline? (conjunto de medicamentos na última fase de desenvolvimento) de terceiros. ?Podemos comprar produtos de outros laboratórios para enriquecer nosso mix?, afirma Alves. Essa medida é parte de uma reestruturação mundial que inclui, ainda, a atenção especial a mercados emergentes e uma ?enxuta? estrutura de custos. Wall Street aprovou. O valor das ações da MSD, que estacionou nos US$ 30 no último mês, subiu para US$ 43 na semana passada.

Também pode contribuir, nessa corrida dos US$ 20 bilhões, o projeto de parques tecnológicos que a MSD está incentivando em várias partes do mundo. No Brasil, a idéia é unir governo, universidades e iniciativa privada na criação de centros de pesquisa em vários Estados. ?Não há motivo para o Brasil não ser, por exemplo, um grande desenvolvedor de medicamentos?, diz Alves. A MSD está se mexendo.