08/05/2015 - 10:00
As eleições do ano passado não terminaram da maneira como o médico carioca Alex Botsaris gostaria. Descontente com a vitória da presidente Dilma Rousseff e com os rumos que sua equipe econômica traça para o Brasil, Botsaris decidiu que era hora de começar a pensar em mudar de vida e, talvez, de país. O médico cogitou migrar com a família para Miami, reduto preferido dos brasileiros expatriados. Seus planos mudaram totalmente quando tomou conhecimento dos benefícios que o governo de Portugal oferece a quem quiser comprar um imóvel na “terrinha”. Depois de dois meses de negociação, Botsaris assinou o contrato de compra de seu apartamento em Lisboa em março.
“Se a economia brasileira se deteriorar ainda mais, vou correr para lá”, afirma o doutor. “Conheço pessoas que fizeram isso e estão adorando.” Se nos tempos do Império a corte portuguesa fugiu para o Brasil e escapou de Napoleão, hoje o país quer atrair a elite brasileira e estrangeira para lá. Desde 2012, para sair de uma das maiores crises de sua história, o governo português vem adotando uma série de medidas para atrair investidores. O mercado imobiliário foi um dos maiores contemplados, especialmente no segmento residencial de alto padrão.Para aproveitar esse estímulo, você não precisa comprar uma quinta em Sintra, como fez o banqueiro Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha.
Qualquer estrangeiro que adquirir imóveis acima dos € 500 mil, em lugares como o balneário de Estoril ou na própria capital, recebe, “de brinde”, um Golden Visa, que garante sua permanência no país por cinco anos. A partir do sexto, caso nada de grave aconteça, o proprietário se torna, automaticamente, cidadão português, mesmo se colocar a casa ou o apartamento para alugar. Essas medidas resultaram num crescimento de 15% do mercado imobiliário local, em 2014, tendo 22% de participação de compradores estrangeiros. As facilidades oferecidas pelos patrícios estão atraindo um número cada vez maior de brasileiros endinheirados para o país.
“Pela proximidade da língua e as novas leis financeiras, temos sido consultados diariamente por brasileiros interessados em comprar imóveis”, afirma Paulo Lourenço, cônsul-geral português em São Paulo. Não bastassem os benefícios, os brasileiros estão sendo atraídos pelo valor dos imóveis. Com o preço pago por um apartamento no Itaim Bibi, tradicional bairro de classe média alta na Zona Sul de São Paulo, é possível arrematar um requintado e charmoso apartamento na região central de Lisboa, uma das mais nobres da cidade, na qual o metro quadrado não passa de R$ 11,5 mil.
Ou, até se tornar mesmo, se tornar um morador do cultuado bairro da Lapa, onde fica a residência oficial do primeiro ministro português, Pedro Passos Coelho. “Não vendemos vistos, mas bons imóveis”, afirma Luís Lima, presidente da APEMIP, associação portuguesa que representa o setor. “Cada euro investido se multiplicará rapidamente em quatro ou cinco vezes.” Precificadas em euro, as propriedades europeias ainda ganham no quesito competitividade, em relação às dos Estados Unidos. “A forte valorização do dólar reduziu em 20% o interesse dos brasileiros em Miami”, afirma Luciano Amado, presidente da Bossa Nova Sotheby’s International Realty, franquia no País da inglesa Sotheby’s, líder mundial em imóveis de luxo. “Agora, muita gente está voltando os olhos para Portugal.”
Além de atrair gigantes como a Sotheby’s, empreendedores europeus têm voltado suas atenções para os interessados em deixar o Brasil, seja qual for o motivo. É o caso do francês Roman Carel, especialista no mercado de imóveis na Europa, que acaba de abrir uma filial de sua butique imobiliária Safe Athena, no Rio de Janeiro. “Portugal será o maior responsável pelo nosso crescimento neste ano, que deve chegar a 30%”, diz Carel, cuja empresa, faturou € 5 milhões no ano passado. Na esteira do plano de incentivos do governo português, Carel já vendeu quatro imóveis em Portugal para clientes brasileiros.