O período de fim de ano costuma ser sinônimo de agitação para as empresas ligadas ao mercado imobiliário. O de 2013, no entanto, foi especialmente tumultuado para a Cyrela Commercial Properties, a incorporadora de centros comerciais e edifícios corporativos desmembrada, em 2007, da construtora Cyrela, do empresário Elie Horn. Em menos de duas semanas – entre os dias 5 e 18 de dezembro –, ela lançou, com investimentos de mais de R$ 775 milhões, dois shopping centers: o Metropolitano, na Barra da Tijuca, região nobre do Rio de Janeiro, e o Tietê Plaza, em São Paulo. “Foi uma correria incrível”, diz José Florencio Rodrigues, presidente da CCP. 

 

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José Florencio Rodrigues, presidente da CCP: ”A área de shopping será a maior

da empresa em três anos”

 

No caso do Tietê Plaza, o suspense se estendeu até próximo do clímax das vendas natalinas. Devido a uma série de graves acidentes em obras paulistanas no período – como a morte de dois trabalhadores na construção do estádio do Corinthians para a Copa do Mundo –, faltaram bombeiros para fazer sua vistoria final, depois de todas as outras aprovações já estarem prontas. Com um atraso de mais de um mês, o Shopping Tietê começou a operar a apenas sete dias do Natal. Um problema que obrigou a CCP a negociar compensações com algumas dezenas de lojistas irados. Passada a tormenta, poderia se esperar que 2014 fosse um período de tranquilidade para a empresa paulistana.

 

Mas não será. A companhia constrói, com previsão de inauguração no primeiro trimestre de 2015, dois de seus empreendimentos mais ambiciosos. O Shopping Cidade São Paulo está sendo erguido na avenida Paulista, com investimento de R$ 311 milhões, para ser o mais importante centro comercial da via conhecida como o coração da capital paulista. Conectado a ele está em construção o prédio corporativo – já inteiramente comercializado com o fundo Previ, dos funcionários do Banco do Brasil – batizado de Torre Matarazzo, batizado em homenagem à família do conde Francisco Matarazzo, cuja mansão ocupava o terreno em que foi erguido o empreendimento.

 

A expectativa é de que a estratégia ofereça um retorno diferenciado. “Um centro desse porte na avenida Paulista vai atrair tanto o público frequentador de shoppings quanto o que passa na rua; então, será possível cobrar aluguéis com um prêmio em relação aos outros empreendimentos da cidade”, afirma o holandês Anthony Selman, diretor de gerenciamento de transações da subsidiária da corretora e consultoria imobiliária americana Cushman & Wakefield. Também no primeiro trimestre de 2015, será a vez de a CCP chegar ao Centro-Oeste, com a abertura do Shopping Cerrado, em Goiânia. 

 

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Elie Horn: o fundador da Cyrela agora vê sua empresa novata, a CCP,

se tornar uma das maiores investidoras em centros comerciais

 

A inauguração desses quatro projetos representa uma mudança de patamar para a empresa de apenas seis anos de vida, que surgiu para gerenciar os ativos corporativos da Cyrela. Até novembro do ano passado a CCP possuía 74,35 mil m² de área bruta locável (ABL) própria em centros de compras. Somados, os novos projetos acrescentarão área de 69 mil m², praticamente dobrando a capacidade de negócios da companhia. E a expansão deve continuar. Segundo Rodrigues, há ainda outros quatro projetos em desenvolvimento que estão bem adiantados. “Agora começamos a ganhar corpo, e queremos estar entre os maiores players desse mercado”, afirma o executivo. 

 

“A área de shopping centers vai ser a maior da empresa em três anos.” Em 2012, do faturamento de R$ 499 milhões da CCP, apenas 12% (R$ 60 milhões) vieram de receitas recorrentes ligadas ao negócio de shopping centers. As outras duas divisões, a de edifícios corporativos e de centros logísticos, contribuíram mais para o resultado. Mas a expectativa agora é de que a receita com shop­ping centers cresça em média 33% ao ano até 2018. O modelo de negócios do setor explica o interesse por aumentar a participação da área no resultado. 

 

“É necessário forte capital inicial, mas o risco de vendas é menor do que na área de imóveis residenciais, porque existem as lojas âncoras, que entram logo no início do projeto”, diz Rodrigues, que foi alçado, em agosto de 2013, a CEO da CCP depois de ter sido um dos idealizadores e executores da estratégia de recuperação da Cyrela, da qual era diretor financeiro e de relações com os investidores. E o potencial de crescimento do setor se mantém, mesmo com a economia sofrendo um desaquecimento. “As vendas em shopping centers costumam crescer cinco vezes acima do PIB e três vezes mais do que o varejo em geral”, diz Luiz Fernando Veiga, presidente da Abrasce, a associação das empresas do setor. São razões suficientes para compensar todo o estresse que envolve o lançamento de um shopping. Até mesmo o sofrido recentemente com o sumiço dos bombeiros.

 

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