08/10/2003 - 9:00
A estilista venezuelana Carolina Herrera, de 63 anos, é uma mulher de várias faces. Mãe de quatro filhas, cinco vezes avó, é um dos nomes mais respeitados do universo da moda. Tem 25 lojas e abrirá outras 17. Na semana passada, ela esteve no Brasil com uma de suas herdeiras, também chamada Carolina, de 34 anos. O motivo: o lançamento de uma série limitada do perfume Chic. Suas fragrâncias já rendem R$ 20 milhões no País. A dama do estilo, moradora de Nova York, recebeu DINHEIRO para uma entrevista exclusiva. De simpatia cativante, respondeu às perguntas enquanto desenhava um vaso de flores num papel branco.
DINHEIRO ? Quando a sra. percebeu que gostaria de trabalhar com moda?
CAROLINA HERRERA ? Quando era jovem, ainda não sabia o que pretendia ser. Me casei cedo, tive filhos e trabalhava muito para criá-los. Acabei descobrindo o que gostava somente aos 40 anos.
A senhora desenhava as roupas?
Sim, e até hoje faço tudo. Não assino nada sem que eu mesma tenha criado. A última palavra é sempre minha. Do desenho às cores e como mesclá-las.
Como foi o início da marca?
Éramos pequenos e não sabíamos onde chegaríamos. O sucesso vem aos poucos. Creio que é melhor assim. Quando uma companhia nasce grande, nunca se firma. Tudo deve ser feito devagar.
Por quê?
Porque aí você pode pensar e fazer com que a marca seja sólida, tenha base e produtos de qualidade.
Como foi o primeiro desfile de sua coleção?
Me lembro como se fosse hoje. Foi no Metropolitan Club em um ambiente divino e glamouroso. Uma pequena banda tocava músicas de Cole Porter e o público era estupendo. Mas eu estava muito nervosa. Era a minha primeira aventura e havia muitos problemas.
Que problemas?
Um dos vestidos que eu apresentaria não estava acabado. Fiquei horrorizada. Havia um laço nas costas e não dava para amarrá-lo. No final conseguimos arrumar e ninguém percebeu.
Como o público e a crítica especializada viram a coleção?
O público adorou, mas a crítica foi dura. Diziam que eu não conseguiria fazer moda por muito tempo. Se equivocaram porque estou há mais de 20 anos nisso.
Por que não foram receptivos?
Porque eu era novata, nunca havia trabalhado com nada e nunca tinha ido a uma escola de moda.
A sra. ficou preocupada com isso?
Dói muito porque você acredita que está fazendo um trabalho
bom. Apenas o público me interessava. As mulheres gostavam dos meus vestidos e todas as lojas mais importantes dos EUA compraram minhas roupas.
As publicações americanas se referem à sra. como uma mulher chique. Existe uma cartilha para ser chique?
A receita é ser única, ter seu próprio estilo, saber mesclar e ser diferente dos demais. É uma forma de pensar, agir e ser individual.
Há previsão de montar uma loja própria no Brasil?
Nós queremos, mas ainda não há um projeto. Pode acontecer
dentro de dois anos.
Os brasileiros estão na moda?
Os brasileiros têm uma forma muito especial de se vestir. Muito alegre e tropical. Mas São Paulo é diferente do Rio.
Quais são as diferenças?
São Paulo é uma cidade industrial e as pessoas se vestem de uma forma mais clássica. No Rio é mais descontraído.
O que a impressionou no Brasil?
As orquídeas, a comida, o pão de queijo e a caipirinha. Vou a
um restaurante brasileiro em Nova York chamado El Circo só para tomar caipirinha.
Como um homem pode estar sempre elegante?
Clássico, de terno e gravata. O clássico sempre está bem em qualquer ocasião.
O que é mais importante: moda ou perfume?
O perfume te leva para todos os lugares do mundo. Ele é um complemento para a moda. Quem se veste com a marca quer ter um perfume e as mulheres que não têm condições de gastar em um vestido Carolina Herrera podem ter um perfume.
Sua filha Carolina também cria fragrâncias?
Sim, ela começou com o 212. Entrou em 1997 na empresa e até hoje desenvolve perfumes.
Como é o desenvolvimento do perfume?
Dizemos o que queremos e a nossa equipe trabalha para criá-lo. Depois avaliamos se está bom.
A sra. é mandona?
Não, sou determinada.
Qual é o seu hobby?
Gosto de ler. Neste momento estou lendo a biografia de Alexandre, O Grande. Também vou ao cinema, fico com a minha família.
Arruma tempo para tudo?
Claro, a chave de tudo é a disciplina.