A escritora americana Gertrude Stein costumava dizer que os artistas têm duas casas ? aquelas em que eles moram e aquelas em que eles realmente vivem, feitas de fantasias e sonhos. Os grandes arquitetos mudam de um endereço para outro com facilidade. É o caso da iraquiana Zaha Hadid, de 53 anos, há três décadas em Londres. Ela acaba de receber o Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2004, o equivalente ao Nobel da prancheta. É a primeira mulher em 26 anos de história a receber a láurea. Antes dela foram premiados nomes como o americano Frank O. Gehry, o italiano Renzo Piano e o brasileiro Oscar Niemeyer. Fisicamente, Hadid é parecida com Lina Bo Bardi, a arquiteta do Masp, em São Paulo. Nos gestos, lembra o espalhafato de José Celso Martinez Correia. Em poucas palavras, é a atual queridinha entre os construtores de cidades ? mas não a chamem assim, no diminutivo, porque ela chia. ?Falo muito, e talvez por isso tenham medo de mim?, resume esta mulher nascida numa família sunita mas educada por freiras católicas. ?Mulher e ainda por cima iraquiana? É muito preconceito reunido, mas aos poucos ele vai morrendo.?

Um dos trabalhos de Zaha, o Centro Rosenthal de Arte Contemporânea, em Cincinnati, nos Estados Unidos, foi celebrado pelo crítico americano Herbert Muschamp como um dos mais fundamentais do pós-guerra. É feito de linhas e curvas, concreto e aço, num edifício que parece desconstruído. Nele, as paredes não têm força para limitar o avanço de rampas de acesso ao prédio. ?Suas construções são estudos de movimento, energia e desejo erótico?, arrisca Muschamp. Nesse caminho, ele a põe ao lado de gênios consagrados. ?Tenha em mente gente como Alvar Aalto e Oscar Niemeyer?, afirma. O movimento do concreto é um dos segredos de Zaha, como na rampa de esqui de Innsbruck, na Áustria, que parece sair do chão. Muschamp tem uma tese fascinante a respeito desse ímpeto da arquiteta em subverter as linhas num balé de rabiscos. ?Talvez seja resultado das tradições nômades de sua terra natal, o Iraque.?

Vencedores do Pritzker
2004
Zaha Hadid (Iraque)
2000
Rem Koolhaas (Holanda)
1998
Renzo Piano (Itália)
1989
Frank O. Gehry (EUA)
1988
Oscar Niemeyer (Brasil)