Pergunte a Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que medida deve ser tomada para incrementar as exportações brasileiras. Furlan, chefe de uma pasta que apresentou um superávit na balança comercial de US$ 33,7 bilhões em 2004, dirá que o real precisa ser desvalorizado. Empresários e industriais que vendem seus produtos para outros países fazem coro ao já notório discurso do ministro. Mas há uma Furlan que não concorda com a alta da moeda americana. Leila Maria, de 49 anos, irmã do ministro, não quer nem ouvir falar na desvalorização do real. Nada contra o irmão, celebrado pela obsessão por números e resultados. É que essa administradora de empresas nascida em Santa Catarina comanda a Bacco?s, uma loja em São Paulo que vende vinhos e produtos para casa, quase todos importados. ?Para mim, é melhor o dólar baixo?, diz Leila. A estabilidade cambial é, de certa forma, uma garantia de que os negócios não virarão do avesso. Leila tem ambições grandes. O espaço, localizado no bairro de Higienópolis, região nobre da cidade, passa por uma ampla restruturação com o objetivo de expandir as operações em 2006. ?Pretendemos abrir outra loja nos Jardins?, diz Leila.O processo de reorganização na empresa almeja transformar a Bacco?s em uma loja onde o cliente encontrará produtos para todas as ocasiões. Justamente por isso, no fim de 2003, a executiva inverteu o foco de seus negócios. Na época, ela tinha duas lojas que vendiam exclusivamente bebidas. ?Percebi que os clientes desejavam mais do que o vinho?, diz Leila. ?Também queriam acessórios?. Deu-se, então, uma revolução na empresa. Leila decidiu fechar uma das lojas localizadas no shopping paulistano Iguatemi e inaugurou junto com os vinhos um espaço para casa na loja de Higienópolis. ?Hoje vendemos mais de 12 mil itens?, diz ela. Deste total, há 1,5 mil rótulos de tintos e brancos – o restante mescla edredons a folhas de ouro comestíveis usadas na decoração de pratos refinados. Há quem diga que esse casamento não seja bom, ao menos para a bebida de Baco. ?Acho que atrapalha misturar o negócio do vinho com outros produtos?, diz Arthur Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo. Até agora, entretanto, tem surtido bons resultados. Metade do faturamento vem dos produtos para casa.

Para levar adiante a estratégia de transformar a Bacco?s em uma loja de muitas facetas, Leila treina a sua filha Maria e a sobrinha Manoela para o comando do negócio. As duas já enfrentam o dia-a-dia na empresa e trabalham em um novo serviço: a criação da lista de casamentos. ?Aos poucos, elas vão tomar conta da empresa?, diz Leila. Experiência nesse ramo, ela tem de sobra. A família Furlan, uma das principais acionistas da Sadia, uma gigante do ramo de alimentação com um faturamento de R$ 7,3 bilhões em 2004, foi uma das mais bem preparadas para a profissionalização da companhia familiar a modo de não interferirem no cotidiano da empresa. ?A Sadia é referência no processo de sucessão?, diz Renato Bernhoeft, consultor especializado em empresas familiares. A Bacco?s, em uma escala menor, muito menor, também planeja seguir esse mesmo caminho.