21/08/2008 - 7:00
A ITALIANA MARGHERITA, de 52 anos, era quase uma desconhecida do noticiário internacional. Manteve-se praticamente a vida toda longe dos holofotes. Mas, em maio do ano passado, surgiu como uma avalanche abalando as estruturas da família mais poderosa da Itália: o clã Agnelli, que controla a montadora Fiat, Alpha Romeo, Ferrari, entre outras empresas – um conglomerado que movimentou 58,5 bil hões de euros em 2007. Margherita, única filha viva de Gianni Agnelli, o lendário capo da Fiat morto em 2003, está revirando as contas da família em busca da verdade. Ela quer saber o real tamanho da fortuna de seu pai, oficialmente estimada entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões, e para isso acionou a Justiça italiana. Motivo: antes de morrer, Agnelli encomendou um testamento aos seus três fiéis conselheiros, Gianluigi Gabetti, Franzo Grande Stevens e Siegfried Maron. O documento foi aberto após a sua morte e a herança foi dividida entre a matriarca da família, Marella Agneli, a própria Margherita e seu neto John Elkann, de 32 anos. Margherita, entretanto, quer ter acesso à lista completa de todos os bens de Agnelli, pois acredita que existe muito mais do que foi divulgado.
Os conselheiros de Agnelli abriram o testamento seis dias após a morte do empresário, vítima de um câncer de próstata aos 81 anos de idade. E, pela divisão feita um mês depois, Agnelli deixava 37% das ações da Dicembre, empresa que controla os negócios da família, para sua filha; 37% para sua esposa, Marella; e 25% das ações ficariam com John Elkann, seu neto e primogênito de Margherita. “Nesse momento, algo completamente fora das regras aconteceu”, disse ela à revista Vanity Fair. Marella doou suas ações a John, tornando-o majoritário na empresa e deixando Margherita longe dos negócios. Os outros filhos do primeiro casamento de Margherita com Alain Elkann, Lapo, de 30 anos, e Ginevra, de 28 anos, ficaram com uma participação bem menor, e os filhos do segundo casamento com Serge de Pahlen, Maria, de 25 anos; Pietro, de 22 anos; as gêmeas Anna e Sofia, de 19; e Tatiana, de 17, ficaram sem nada. Acreditando que todos deveriam receber tratamento igual, Margherita foi à forra.
A decisão de levar sua história para a imprensa pôs os membros da família em pé de guerra. “Em 2002, enquanto a empresa quase ia à falência, Margherita só pensava em sua herança”, afirma Lupo Rattazzi, sobrinho de Gianni Agnelli e um dos jovens mais respeitados do clã. O filho John mostrou- se profundamente desapontado com a mãe e os irmãos do primeiro casamento de Margherita cortaram relações com ela. O restante da família, incluindo Marella, também rompeu com ela. Segundo a herdeira, todos foram instruídos pelos conselheiros a fazer isso, o que os Agnelli negam veementemente. Em 2004, um ano depois de receber a herança e tentando fazer as pazes, Margherita aceitou um acordo pelo qual vendia suas ações para John e recebia um total de US$ 2 bilhões, entre investimentos e propriedades. Mas a trégua durou pouco tempo. Ao fazer o próprio inventário com seu advogado, Margherita decidiu retomar a questão.
Dirigindo a Fiat, Gianni Agnelli se tornou um dos mais renomados e admirados empresários de seu país, ajudando a levar a Itália do pósguerra ao seleto grupo das cinco economias mais fortes do mundo. Sua esposa, a princesa napolitana Marella, foi imortalizada como uma das mulheres mais belas de seu tempo pelas lentes do renomado fotógrafo Richard Avedon. Juntos, eles tiveram dois filhos: Edoardo, que nunca atendeu às altas expectativas do pai; e Margherita, a jovem simpática e afável, porém reservada e distante. Ambos os filhos, revela a reportagem da Vanity Fair, sofreram com um pai ausente, frio e interessado apenas em suas amantes e negócios. Margherita encontrou no casamento uma forma de manter-se longe; Edoardo tomou o caminho das drogas e suicidou-se. Considerados “os Kennedy da Itália”, os Agnelli enxergam Margherita como uma traidora. Para Lupo Rattazzi, a prima, que nunca foi uma figura marcante e sempre aparecia como mãe devotada, achou sentido para sua vida com a briga. “Ela agora encontrou um novo papel para desempenhar: o de guerreira”, disse.