30/04/2008 - 7:00
DIVIDIR PARA REINAR. Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, acaba de dar o passo inevitável para os grandes líderes de organizações de alto crescimento: abriu mão do poder. Na semana passada, ele promoveu uma verdadeira dança das cadeiras na cúpula do Itaú. Agrupou áreas de negócios, repassou autoridade a outros executivos e abriu espaço em sua agenda para dedicar mais tempo às questões estratégicas. A principal novidade senta-se agora numa sala próxima a sua e atende pelo nome de Geraldo Carbone. O ex-presidente do BankBoston foi nomeado responsável pela área de pessoas físicas, que atende 15 milhões de clientes e é considerada vital na guerra dos bancos de varejo.
O crescimento da concorrência, especialmente depois da compra do Banco Real pelo Santander, em outubro passado, levou Setubal a rever o modelo de gestão, centrado em sua figura nos últimos 13 anos. ?Reconheço que recentemente aquele modelo perdeu eficácia e é necessário mudar?, afirmou, em e-mail enviado aos diretores e conselheiros, na sexta-feira 18. ?O ambiente externo e a necessidade de retomarmos a liderança em performance recomendam mudanças profundas?, continuou. Ele reduziu pela metade as duas dezenas de diretorias que comandava no dia-a-dia, criando cinco áreas de negócios e cinco de apoio. ?A reestruturação administrativa deve facilitar as coisas e dar mais agilidade.
O excesso de pessoas que respondiam diretamente a mim estava atrapalhando um pouco?, afirmou Setubal à DINHEIRO, na quarta-feira 23. Aos colegas de diretoria, foi mais enfático e ressaltou que o novo modelo fortalece os controles internos e dá mais autonomia, ?em estrutura liderada por pessoas que vão ?agir como donos??.
Um dos donos (sem aspas) que ganhou mais espaço é Ricardo Villela Marino, filho de Milú Villela e membro do clã que divide com os Setubal o controle do Itaú. Ele manteve o cargo de diretor executivo e as áreas de recursos humanos e operações na América Latina, mas ganhou assento no conselho de administração. Sua mãe, mais afeita às atividades culturais do que ao mercado financeiro, pediu para sair do conselho. A mudança foi aprovada na assembléia-geral do banco na quarta-feira 23. ?Ricardo está seguindo a trajetória de Roberto e subiu mais um degrau?, disse um conselheiro à DINHEIRO. Outro acionista que cresceu na organização foi Alfredo Setubal. Além de dirigir o setor de mercado de capitais, o vice-presidente sênior irá comandar seguros, previdência e capitalização. Ruy Moraes Abreu assumiu a área de empresas e Antonio Carlos Barbosa de Oliveira irá tocar tecnologia, auditoria, compliance, controles internos e segurança e o departamento jurídico.
Roberto Setubal aposta na experiência de Carbone para acelerar o varejo e conquistar maiores fatias no mercado de crédito às pessoas físicas, o que mais tem crescido no setor diante do aumento da renda da população e a emergência de uma nova classe média. Segundo ele, Carbone ?consolidou visão ampla do sistema financeiro e construiu liderança sensível e diferenciada?. Nos últimos dois anos, o ex-presidente do BankBoston atuava como investidor em novos negócios.