Quem encontra Frank Wlasek pela primeira vez, dono da Metalnave e do estaleiro Itajaí, logo se surpreende com os modos aristocráticos desse empresário que é um dos sobreviventes da indústria naval brasileira. Wlasek estudou nas melhores escolas internacionais, fala cinco idiomas e sempre viveu em ambientes cercados de glamour. No contato direto, age de maneira formal e é difícil imaginá-lo envolvido em qualquer tipo de confronto. Na semana passada, porém, ele abandonou seu estilo tradicional quando soube que o governo dinamarquês faria queixas contra sua empresa ao presidente Lula, que estava em visita oficial à Escandinávia. Tudo porque a Maersk, maior empresa de navegação do mundo, que é também dinamarquesa, possui um contencioso com a Metalnave relacionado à construção de três navios. À DINHEIRO, Wlasek desabafou.

?Há algo de podre no reino da Dinamarca?, disse o empresário, citando Hamlet, a peça mais famosa de Shakespeare. ?Por que a Maersk, tão poderosa, precisa envolver os seus monarcas numa disputa comercial com uma empresa como a nossa??, indagou. Incomodado, Wlasek quer agora que o caso seja levado às últimas conseqüências.

Tudo começou em 2005 quando a empresa de navegação holandesa P&O Nedloyd constituiu uma subsidiária, a Mercosul Lines, para fazer transporte de cabotagem no Brasil. De acordo com as regras da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), isso deve ser feito com embarcações construídas no Brasil, o que levou os armadores holandeses a encomendar três navios ao Itajaí. Depois disso, a P&O foi vendida para a Maersk. Agora, segundo relata Wlasek, os dinamarqueses querem manter a autorização para navegar pela costa brasileira, livrando- se do ônus de comprar os navios aqui. Para concluí-los, seria necessário desembolsar algo em torno de US$ 90 milhões. ?Eles decidiram comprar lá fora, o que a lei não permite?, diz Wlasek.

A briga com a Maersk não é a única disputa que hoje envolve o grupo Metalnave. Em março do ano passado, Wlasek venceu uma licitação da Transpetro, subsidiária da Petrobras, para construir três navios gaseiros, numa encomenda de US$ 130 milhões.

A questão é que o início da construção foi sucessivamente adiado em função de uma pendência da Metalnave junto ao BNDES. Wlasek garante que o problema já foi totalmente superado. ?Nossas dívidas estão renegociadas e não há mais inadimplência?, disse o empresário. Os concorrentes, no entanto, querem que a licitação da Transpetro seja refeita. Procurada pela DINHEIRO, a empresa informou que não abrirá nova disputa se não houver mais pendências com o banco estatal. O BNDES, por sua vez, confirmou a renegociação. E isso deixa o dono do grupo Metalnave confiante. ?Foi uma disputa limpa, que nós vencemos e temos totais condições de executar as obras?, diz ele. Depois da crise dos últimos anos, Wlasek também abandonou um hábito que havia adquirido recentemente: o de adquirir vacas milionárias nos leilões de gado nelore. ?Foi uma aventura passageira?, reconhece.

?Tenho que me focar agora no nosso negócio.?