O crédito ampliado às famílias atingiu R$ 3,4 trilhões em novembro, uma alta de 1,4% em relação a outubro e avanço de 17,9% em 12 meses, segundo dados do Banco Central. Já os empréstimos cedidos para as empresas atingiram a casa dos R$ 5,1 trilhões, elevação de 9,6% em 12 meses até novembro.Olhando para os números, é tentador dizer que o setor está altamente aquecido por causa do crescimento registrado. No entanto, esse não é o cenário real. Os dados de novembro mostram uma desaceleração da expansão do crédito, recuando de 15,7% em outubro para 14,7%. Segundo o CEO da QueroQuitar, Marc Lahoud, o crescimento anual é explicado pelo primeiro semestre. “Os primeiros seis meses do ano foram aquecidos, com a inadimplência ainda controlada, mas as coisas mudaram”, disse. Em resumo, o cenário é totalmente difrerente. Um dos motivos para isso foi a alta do endividamento e do atraso no pagamento dos compromissos. De acordo com os dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), 78,9% das famílias estão endividadas e 30,3% dos brasileiros têm dívidas vencidas.

E se o cenário muda, a estratégia muda. Foi o que aconteceu com as fintechs, que concediam crédito de uma forma muito mais ágil. Na Gyra+, especializada em empréstimos para pessoas físicas e jurídicas, o volume de concessões foi reduzido. “O momento é de cautela, por isso, fazemos uma seleção muito melhor para saber se vamos emprestar o dinheiro”, disse o CEO Rodrigo Cabernite. “Isso não é apenas aqui. Quando olho para o mercado e tenho contato com outras fintechs, o sentimento é o mesmo.”

MOMENTO É DE CAUTELA CEO da Gyra+, Rodrigo Cebernite, diz que agora faz “uma seleção muito melhor para saber se vamos emprestar o dinheiro”. (Crédito:Divulgação)

As fintechs passaramn a seguir o nesno receituário dos grandes bancos. Para o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Luís Carvalho, a disparada dos juros e da inadimplência acendeu o sinal de alerta antes nas instituições convencionais, movimento que tombou para os players menores. “Isso fez essas companhias avaliarem melhor seus clientes antes de conceder um novo produto”, afirmou Carvalho. “E se os gigantes estão avaliando melhor seus potenciais clientes, as financeiras e fintechs também começaram a fazer isso.” Carvalho acredita que, se a lucratividade de uma empresa desenvolvida pode ser impactada, as que estão em expansão sofrem muito mais. “Algumas não possuem uma grande reserva para provisões, então o melhor é tirarem o pé do acelerador.”

GRANDES BANCOS Ao longo da divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2022, os gigantes do mercado — Itáu Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil — anunciaram que subiriam a régua para a realização de novos contratos. Esse posicionamento foi confirmado pelo Banco do Brasil em nota enviada à DINHEIRO. “O BB promoveu adequações em sua esteira de crédito, possibilitando o sensoriamento de clientes com indícios de deterioração de risco e a ampliação da concessão para bons clientes”, afirmou.

O presidente da Acrefi comenta que essa mudança não significa que as empresas, grandes ou fintechs, pararam de conceder crédito. Elas apenas não deixaram acessível como antes. “Imagina que você está com um carro na estrada a 80 quilômetros por hora e você para de acelerar. A velocidade não vai cair bruscamente. Você ainda vai continuar em movimento”, afirmou.

Foi justamente no meio dessa desaceleração que algumas empresas encontraram uma forma de se encaixar no cenário atual e focaram em transações consignadas. É o caso da financeira Banco BMG. De acordo com o CFO Carlos André, a companhia mirou no crescimento de produtos como empréstimos no cartão de crédito e na antecipação do saque aniversário do FGTS. “Conseguimos colaborar com a demanda ao mesmo tempo que mantivemos nossos índices de inadimplência sob controle, encerrando o terceiro trimestre de 2022 em 2,4%”, disse Carlos André.

Mesmo com algumas companhias se ajustando ao cenário, o presidente da Acrefi enxerga que 2023 pode não ser um ano tão interessante, principalmente para as fintechs. “Muitas ainda são bem alavancadas e precisam de novos aportes para se financiar, o que é difícil com os juros altos. Isso leva os investidores para a renda fixa”, afirmou Carvalho, ao lembrar que a expectativa é que a Selic encerre 2023 a 12,25%.

Ainda assim, o CEO da Gyra+ acredita que há perspectiva para uma possível redução do endividamento das famílias, principalmente na proposta do governo em facilitar o acesso ao crédito. “Isso pode fazer com que algumas pessoas peguem empréstimos a juros menores para quitar as dívidas, o que no longo prazo é positivo para o setor, visto que ele terá antigos nomes reativados na praça”, disse Rodrigo Cabernite.