O português Dionísio Pestana, 54 anos, dono da rede Pestana, uma das maiores cadeias hoteleiras da Europa, é mais um dos fãs que o técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari conquistou na terra de Camões com o quarto lugar na Copa da Alemanha. ?Ele fez milagre, é um grande motivador?, diz. O elogio parte de um homem que entende do assunto: nem tanto de futebol, mas sim de realizar grandes proezas. Pestana conseguiu transformar um hotel falido, na Ilha da Madeira, território português no continente africano, em um conglomerado de 75 unidades espalhadas ao redor do mundo com faturamento anual de 250 milhões de euros. Na semana passada, este senhor de fala pausada, avesso a entrevistas e conhecido pelo tino comercial, esteve no Brasil para selar outro feito. A rede Pestana, presente no País desde 1999, assinou um contrato de dez anos com a Costa do Sauípe, empreendimento turístico do fundo de pensão Previ, a 76 quilômetros de Salvador, para operar seis pousadas até então administradas pela própria Costa do Sauípe. ?Assim completamos a nossa atuação na Bahia?, disse Pestana em entrevista exclusiva à DINHEIRO. ?Temos o Pestana Bahia, o Convento do Carmo, ambos em Salvador, e, agora, um resort para oferecer aos nossos hóspedes.?

O mercado estima que para cravar a bandeira na Costa do Sauípe o Pestana desembolsará cerca de R$ 6,6 milhões ao ano. É um bom negócio para ambas as partes porque o grupo tem potencial para levar turistas para a região e porque Sauípe ganha mais uma bandeira internacional somada às cadeias Accor, Marriot e Superclubs, que já atuam no lugar. ?O Pestana se encaixa no que estávamos procurando?, diz Alexandre Zubaran, presidente da Costa do Sauípe. ?Eles sabem operar tanto hotéis como pousadas.? Este é, na verdade, o grande segredo da cadeia hoteleira portuguesa. Todos os seus negócios se casam de forma que um possa dar suporte ao outro. No Exterior, o grupo atua em grandes hotéis, pousadas históricas, tem cassino, uma companhia aérea para vôos fretados com oito Boeings, é dono de campos de golfe e de grandes operadoras de turismo. Assim, pode fazer com que o turista compre todos os serviços da rede, desde o pacote até o transporte, atravessando todas as opções de hospedagem. ?O futuro das grandes redes depende da sinergia?, diz Pestana.

Ao que parece, essa estratégia começa a ganhar maior escopo no Brasil. Além de ter oito hotéis no País, mais de um erguido por ano, ela vai entrar em outros segmentos. ?Investiremos no mercado imobiliário brasileiro?, diz Pestana. O grupo construirá condomínios de luxo. Pretende vender as casas e oferecer serviços hoteleiros para os moradores. ?Já estamos procurando terrenos para iniciar as operações.? Paralelo a isso, o Pestana também pretende abrir outro hotel na região Nordeste. ?Estivemos perto de abrir uma unidade em Ipojuca, em Pernambuco, mas não deu certo?, diz Pestana. Mas novos hotéis em outras cidades não estão descartados. Desde que comprou a primeira unidade no País, o Pestana Rio Atlântica Hotel, no Rio de Janeiro, a empresa já investiu R$ 200 milhões no Brasil e os resultados estiveram acima das expectativas. Dados do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, o Fohb, mostram que a média de ocupação dos hotéis no País, em 2005, alcançou 61%. O Pestana, por sua vez, obteve uma média de 70%.

O segredo para obter esses resultados se esconde na tal sinergia de que Dionísio Pestana tanto fala. Como tem uma ampla estrutura montada na Europa, a rede consegue trazer um grande número de turistas estrangeiros ao Brasil. No Pestana de Natal, por exemplo, 70% dos hóspedes vêm do Exterior. No Convento do Carmo, na Bahia, 65%, e no Rio de Janeiro, 50%. ?É aí que está o sucesso de redes portuguesas como o Pestana?, diz Eraldo Alves da Cruz, presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, a Abih. O que acontece, na verdade, é que o grupo soube expandir as operações de modo ordenado para, assim, descobrir os principais nichos. ?Eles estão fazendo um grande trabalho no Brasil?, diz Guilherme Paulus, dono da CVC, a maior operadora de turismo do País. ?Constroem vários hotéis com linhas diferenciadas.? E isso começa a ganhar destaque no restante da América do Sul. ?O Brasil é a nossa base de expansão?, diz Pestana.

Depois de inaugurar uma unidade em Buenos Aires, na Argentina, a rede parte agora para Caracas, na Venezuela. ?Há uma grande colônia de portugueses naquele país?, diz Pestana. Aliás, as decisões da empresa se baseiam, principalmente, nessa questão. A internacionalização do grupo começou com os países de língua portuguesa. Primeiro foi a vez de Moçambique e depois, o Brasil. De acordo com o empresário, fica mais fácil se adaptar aos países que falam o mesmo idioma. O curioso, contudo, é que Pestana aprendeu a falar português somente aos 24 anos. Isso mesmo. Filho de portugueses, ele nasceu na África do Sul, onde seu pai, Manuel Pestana, trabalhava com a venda de bebidas e, no início da década de 70, decidiu investir em um hotel na Ilha da Madeira. Na época, o pai fechou uma parceria com a rede Sheraton e concedeu aos americanos a administração do empreendimento. Acontece, porém, que, em 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura e impôs o regime socialista, mudou todos os contratos das empresas no país.

Com a mudança de governo, o hotel da família Pestana passou por sobressaltos, pagava juros altíssimos e tinha que destinar boa parte dos ganhos para a cadeia americana. O jovem Dionísio foi para a Ilha da Madeira com a missão de sanar as dívidas e reerguer o hotel. Em seis anos ? além de trocar o idioma inglês pelo português ? ele cumpriu a tarefa e, depois, multiplicou o negócio. Em 2003, quando tinha 35 unidades, assinou um acordo com as Pousadas de Portugal, conjunto de 40 pousadas históricas espalhadas no país, para revitalizá-las e explorá-las comercialmente. Foi um sucesso. É o famoso toque de Midas, como dizem os portugueses? ?Não, meu caro, é um toque de muito trabalho com uma boa equipe?, diz Pestana.

“Aos 24 anos, eu tinha um hotel falido. Hoje, tenho uma cadeia com 75 unidades espalhadas pelo mundo”.

US$ 200 milhões é quanto o grupo investiu no Brasil desde 1999 quanto o grupo investiu no Brasil desde 1999

DIONÍSIO PESTANA, dono do Grupo
 

BATE-BOLA
Na segunda-feira, 28 de agosto, Dionísio Pestana, o dono do grupo Pestana, recebeu a DINHEIRO. Confira:

Por que o Pestana resolveu operar na Costa do Sauípe?
Porque já temos duas hospedagens em Salvador, o hotel Pestana e o Convento do Carmo. Precisávamos atuar também em um resort, de modo a oferecer serviço completo aos turistas.

Que tipo de serviço?
Com as Pousadas do Sauípe teremos mais sinergia. Dessa forma, o turista que vier para a Bahia terá várias opções. Ele poderá, por exemplo, se hospedar no Convento do Carmo e depois estender a estadia na Costa do Sauípe. Sempre conosco.

Há previsão de abrir outros hotéis no Brasil?
Sim, desde que chegamos ao Brasil abrimos mais de um hotel por ano. Pretendíamos inaugurar um hotel em Ipojuca, Pernambuco, mas não deu certo. Com certeza teremos outros endereços no País.

Além da hotelaria, o grupo Pestana tem vários negócios na Europa. Há a possibilidade de atuar em outros segmentos no País?
Vamos começar, em breve, a construir condomínios de alto padrão. Já estamos de olho em alguns terrenos.

Como seriam esses condomínios?
Seriam de casas, com campo de golfe e serviços administrados por nós.