É perceptível o crescente clima de insatisfação do empresariado com os rumos da economia. Os números de produção são pífios, especialmente na indústria, e a falta de diálogo com o governo aumentou o mau humor geral. O ponto de fervura atingiu seu auge na semana passada, quando o presidente do Iedi, Pedro Passos, em entrevista ao Estadão, provocou a ira no Planalto. Disse Passos: “É preciso reconhecer que o modelo se esgotou.” Para logo depois completar: “A confiança dos empresários no governo acabou.” A reação veio rápida e abaixo da cintura. O até então ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, alegou que a crítica do Iedi era política, já que Passos é sócio-fundador da Natura, grupo que apoia Marina Silva e, por tabela, o presidenciável Eduardo Campos, opositor de Dilma nas próximas eleições. 

 

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“Passos se tornou um militante de um projeto de oposição”, alegou Pimentel. Logo vieram réplicas. O presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, que foi convidado justamente para o cargo de Pimentel, saiu em defesa de Passos. Falou de sua seriedade e apontou que a queixa é compartilhada por muitos. O ministro Pimentel, que deixa o posto para fazer campanha política, errou ao desqualificar as críticas. Elas são procedentes e deveriam servir de trilha para uma agenda de propostas e a abertura do diálogo com os empreendedores. Outro aliado de Pimentel e colega de ministério, Alexandre Padilha, que concorre ao governo paulista, ouviu o mesmo tipo de reclamação dos empresários logo no lançamento de sua candidatura dias atrás, quando foram feitos ataques à gestão Dilma. 

 

A insatisfação visível é com a falta de diálogo. Esse distanciamento já gerou situações constrangedoras para a presidenta, como a recusa aberta de dois grandes empresários para ocupar o Ministério do Desenvolvimento. Além de Josué, Abilio Diniz, hoje à frente da BRF, disse não. Sem opções, Dilma teve que promover à vaga, interinamente, o então braço direito de Pimentel, Mauro Borges. Não há no horizonte claros sinais de que esse pessimismo da produção vá mudar em breve. Serão necessários para isso gestos concretos de aproximação da presidenta. Algo que deveria ser a coisa mais natural do mundo, principalmente em se tratando de ano de campanha eleitoral. Seus adversários, ao contrário dela, já iniciaram firmes movimentos de conversa com o PIB em jantares, almoços e encontros reservados. Dilma, por enquanto, limita-se a tratar com o empresariado e a passar recados em encontros oficiais. Está perdendo tempo e um precioso universo de apoio.