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Aos poucos, os corretores de valores mais tradicionais começam a sair de cena, seduzidos pelos dólares e libras dos concorrentes estrangeiros. A aposentadoria mais recente é a do empresário Eduardo da Rocha Azevedo, 60 anos. Ele acaba de vender a corretora Convenção para o grupo britânico Tullett Prebon.

Há três meses, a americana BGC finalizou a compra da segunda maior corretora da BM&F, a Liquidez, do ex-juiz de futebol Arnaldo Cezar Coelho. E a corretora Magliano, do ex-presidente da Bovespa Raymundo Magliano Filho, está sendo cobiçada por competidores com interesse em fincar bandeira no Brasil.

Mais do que negócios habituais do mercado financeiro, essas transações marcam o fim de uma era, que começou com as aberturas de capital da Bovespa e da BM&F e se aprofundou com a fusão das duas bolsas, em 2008. Os ícones do mercado, que construíram a quarta maior instituição do gênero no mundo, estão se despedindo.

A história de Rocha Azevedo, chamado de “Coxa” pelos amigos, se confunde com a das bolsas de valores no Brasil. Nos anos 80, ele e o investidor Naji Nahas foram protagonistas de um dos maiores escândalos já ocorridos no mercado nacional. Em 1989, quando Nahas já havia transferido suas operações para o Rio de Janeiro, uma mudança nas regras de liquidação dos papéis, decidida por Rocha Azevedo, causou a quebra não apenas do seu rival como da própria bolsa do Rio.

“Defendi o mercado”, diz Coxa. Anos depois, Nahas foi inocentado pela Justiça e entrou com ação indenizatória contra a Bovespa – e o veredito final ainda não foi dado. Rocha Azevedo também foi um dos fundadores da Bolsa de Mercadorias & Futuros, a BM&F. “Foi a minha maior conquista profissional”, diz ele à DINHEIRO. “Olhando a economia do Brasil e a situação política da época, não tenho dúvidas de que foi uma tremenda audácia o que investimos na BM&F.”

Comenta-se no mercado que a Convenção, uma das cinco maiores no segmento de derivativos da BM&FBovespa, teria sido vendida por US$ 35 milhões, com direito a bônus pelos próximos três anos se a equipe deixada por Rocha Azevedo cumprir as metas de desempenho estabelecidas pelos ingleses.

E quais foram os motivos da venda? Para competir com os corretores de fora, o empresário teria de investir um dinheiro que hoje prefere gastar em outros negócios, como a Faculdades de Campinas, que tem entre os sócios o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. “Eu teria que investir mais US$ 100 milhões nos próximos anos se quisesse competir com a plataforma de negócios dos intermediários estrangeiros”, diz Rocha Azevedo.

“Saio do mercado financeiro, mas o mercado não vai sair de mim”, assegura. Houve época em que os corretores de valores tinham um poder enorme. Eram donos privilegiados das bolsas. Mas o mercado mudou, se globalizou e o clube fechado acabou. Mas o fundo de comércio das corretoras tradicionais é alvo de muita cobiça.

Os grandes grupos estrangeiros se sentem atraídos por marcas de peso, localização estratégica no centro financeiro de São Paulo e pela robusta carteira de clientes. “Decidimos entrar no Brasil pelo tamanho e pelo potencial do mercado brasileiro. Além disso, sentimos muita segurança nos organismos reguladores, o Banco Central e a CVM,explica à DINHEIRO o economista Alberto Mente, chief financial officer da BGC Partner.

A BGC é líder mundial em plataformas eletrônicas e, apesar de estar presente em 15 países, a unidade brasileira, comprada por US $ 200 milhões, é a primeira na América do Sul. Os americanos resolveram investir pesado.

Foram R$ 2 milhões somente em troca de equipamentos no último mês. “Vamos dobrar ou até triplicar de tamanho nos próximos anos”, diz Arnaldo Cezar Coelho. Ele vendeu, mas ainda apita no negócio e continua como presidente das operações do grupo no País.