06/11/2002 - 8:00
Era uma vez uma gigantesca companhia de entretenimento. Ela cresceu, virou uma marca valiosa, se multiplicou, abriu novas empresas, comprou outras e se diversificou. Ano a ano, seu valor aumentava. Os acionistas viviam felizes para sempre e tudo parecia um conto de fadas. Mas eis que chega o século 21. E a realidade trai a Walt Disney Company, conglomerado de US$ 34 bilhões.
Eis que chega o balanço de 2002. Os números? Prejuízo líquido de
US$ 158 milhões, um dos piores anos de sua história. Os famoso parques temáticos, que representam 40% das receitas da companhia, viviam vazios. Estavam no nível mais baixo dos últimos 20 anos. As vendas de espaço publicitário de suas empresas de mídia despencaram, junto com a audiência da ABC ? canal de tevê que pertence ao grupo. E os preços das ações caíam em velocidade de raio. Mais de 35% desde que Michael Eisner assumiu o leme da companhia, em 1984. Ele mesmo tirou da cartola um megaplano de socorro. O portal de internet da companhia, uma hemorragia de dinheiro, foi extinto. Cerca de 4 mil empregos foram cortados, assim como os US$ 600 milhões que seriam investidos no grupo. Mais de 50 lojas Disney Store, que vendem produtos licenciados, foram fechadas. Mas os investidores não confiam que a mágica de Eisner recupere o brilho da Disney.
A pergunta é: por que o executivo ainda não caiu? Desde que assumiu a Disney, ele virou uma espécie de salvador da pátria.
Quem imaginaria que um hit dos cinemas, o Rei Leão, viraria um dos maiores produtos de licenciamento do planeta? Quem poderia supor que os tentáculos da Disney se espalhariam pela América, colocando os parques na lista dos maiores destinos do mundo, e migrariam ainda para a Ásia e Europa? A capitalização do grupo subia de
US$ 2 bilhões para US$ 90 bilhões no ano 2000.
Algum dia no meio dos anos 90, as coisas começaram a degringolar. A saída de Jeffrey Katzenberg (ex-presidente da área de filmes), a briga com o segundo homem forte da companhia Mike Ovitz ? que deixou o cargo em 1996 e ainda levou US$ 140 milhões de indenizações. E, por fim, 11 de setembro, um golpe quase fatal. O medo dos ataques terroristas deixou os parques às moscas. E o faturamento das atrações temáticas da companhia caiu 2%. A ABC não teve sorte melhor. Vai perder US$ 850 milhões durante as próximas duas estações por conta da queda de publicidade, predizem analistas. O que está em risco não é só a ABC. Mas o emprego de seu presidente, Robert Iger, e a própria cabeça de Eisner. ?Eisner fez muito dinheiro ? para ele?, critica Theodore Parish, um investidor de Atlanta. O presidente da Disney diz que não há o que se preocupar. ?Talvez eu esteja louco, mas não vejo nenhuma grande crise?, garantiu em junho, à ABC. ?O que temos é uma enorme oportunidade. Estamos no chão e daqui não se passa?, brincou. Não há muita razão para risadas. Afinal, como em todo conto de fadas, ainda há uma pergunta a ser resolvida: será que Eisner e a Disney viverão felizes para sempre?
Com Bloomberg News