25/01/2006 - 8:00
Uma disputa judicial está revirando as areias das dunas de Genipabu, a 25 quilômetros de Natal, cartão postal do Rio Grande do Norte. De um lado estão três famílias donas de três terrenos que compõem o complexo. Do outro, aparecem o governo do Estado e os bugueiros profissionais. Um dos donos do pedaço acusa o governo de querer se apossar das terras com uma área de 600 hectares, o equivalente a 6 milhões m², para explorar o potencial turístico da região. ?É uma atitude criminosa?, diz Euclides Gomes da Silva, dono de um naco desapropriado. O governo, entretanto, afirma que está agindo para garantir o desenvolvimento sustentável do local sem agredir o meio-ambiente. ?A área estava sendo invadida por posseiros e a família Gomes da Silva construiria uma usina eólica e um hotel no terreno?, diz Carlos Castim, secretário adjunto do Gabinete Civil do Estado do Rio Grande do Norte. ?Naquela região não se pode construir nada?, diz ele. O proprietário do terreno se defende. ?A construção da estação eólica tem a autorização da Aneel e da Secretaria de Meio Ambiente?, diz Gomes da Silva. No meio do imbróglio está a população que vê a disputa pelo patrimônio ser tratada como uma briga por um pedaço qualquer de terra.
É fácil entender o que o Parque Ecológico de Genipabu significa para os potiguares – seria o mesmo que ver um pedaço da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, mergulhada numa disputa judicial. A briga começou em julho de 2004, quando mais de 400 bugueiros pararam uma avenida de Natal em protesto ao preço cobrado pelas famílias para a entrada dos turistas. De R$ 5,00 por turista, passou-se a cobrar R$ 10,00 por pessoa. ?Ficava inviável para os bugueiros?, diz Eduardo Pires, presidente do Sindicato dos Bugueiros Profissionais do Rio Grande do Norte. Apesar do preço ter voltado a R$ 5,00, os motoristas não voltaram e resolveram traçar uma outra rota turística. Enquanto isso, a disputa pelo controle das terras continua. Uma das áreas, a que inclui a lagoa de Genipabu, com 138 hectares, o equivalente a 1,38 milhão de m², já foi provisoriamente desapropriada e o governo depositou R$ 704 mil em juízo. A família dona da terra, porém, pede R$ 28 milhões. ?Como os valores são muitos distantes, a Justiça vai avaliar o preço e depois dar um parecer?, diz Francisco de Sales Matos, procurador do Estado. Em fevereiro, de acordo com o governo, uma segunda área será desapropriada. Um oásis de tranqüilidade virou palco de brigas.