23/07/2008 - 7:00
NOS ÚLTIMOS ANOS, A americana Dow Chemical só fez encolher no Brasil. Paralisou a produção na unidade de Aratu (BA) e vendeu as plantas situadas em Camaçari (BA) e Cubatão (SP). Também se desfez da fatia de 13% que detinha no capital da PQU, repassada à rival Unipar. E a mesma Dow que parecia desinteressada pelo País acaba de reforçar sua posição por aqui. Fez isso com a aquisição global da compatriota Rohm and Haas. A transação custou US$ 18,8 bilhões e surpreendeu os analistas. Primeiro pelo ágio de 74% pago aos controladores da Rohm and Haas. E em segundo lugar pela rapidez com que o negócio foi resolvido. “Entre o primeiro contato e a assinatura do acordo se passou menos de um mês”, conta um graduado executivo da Rohm and Haas que pediu para não ser identificado. O desinteresse da Dow pelo Brasil tem duas explicações.
Primeiro, a maior parte das operações locais, concentradas em commodities, já não se alinhava à estratégia global da companhia, focada em especialidades químicas. Segundo, a empresa deixou passar a melhor oportunidade de se consolidar de vez no mercado brasileiro, ao não disputar o leilão da Copene anos atrás.
Resta saber, agora, se essa falta de apetite em relação ao País permanecerá com a compra da Rohm and Haas. O fato de a Rohm and Haas concentrar sua atuação em insumos nobres deixa margem para uma reversão na orientação em relação ao Brasil, já que são esses tipos de produtos que estão em consonância com as prioridades definidas pela Dow no mundo. Procurados pela DINHEIRO, os executivos da Dow nos Estados Unidos e no Brasil não quiseram se pronunciar.
Em termos globais, a incorporação da Rohm and Haas adicionará US$ 8,9 bilhões às receitas mundiais de US$ 54 bilhões da Dow. Dessa bolada, a filial brasileira da Rohm and Haas vai colaborar com US$ 100 milhões. Mas o maior impacto será no projeto de sustentabilidade da Dow. Isso porque a Rohm and Haas possui uma linha de insumos usados como matéria-prima nos setores de tintas, construção civil e decoração, nichos que vêm apresentando taxas elevadas de crescimento nos últimos anos. “Onde se consegue agregar tecnologia é possível cobrar um preço mais elevado”, opina Nelson Pereira dos Reis, vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). No Brasil, eles são fabricados no complexo industrial que a Rohm and Haas possui em Jacareí (SP). São cinco fábricas que operam com uma taxa de quase 80% da capacidade e nas quais atuam cerca de 100 pessoas.
A expectativa é que boa parte do quadro seja mantido. “Trata-se de uma mão-de-obra altamente especializada e difícil de ser substituída”, argumenta João Rosa, diretor do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas do Vale do Paraíba. Na semana passada, ele se reuniu com a direção da companhia para questionar sobre o impacto da fusão por aqui. “Eles garantiram que, ao menos por enquanto, nada vai mudar”, disse. Ao adicionar o rico e vasto portfólio da Rohm and Haas ao seu catálogo, a direção da Dow pode começar a dar o troco. Especialmente em segmentos como o de emulsões para tintas, no qual ela não participava e agora estréia com uma confortável fatia de 40%.