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FERSEN (DE CALÇA CLARA, NO DESTAQUE), AO LADO DE BONCHRISTIANO: os dois lideram os sócios do GP, grupo que é hoje a maior máquina de aquisições do País

 

Há um novo protagonista na cena empresarial brasileira. É um sujeito grandalhão, faixa preta de judô e que, com apenas 42 anos, se tornou o grande caçador de negócios no País. Seu nome, Fersen Lambranho. À frente do GP, uma casa que administra bilhões em fundos de private equity, aqueles voltados para compra de posições de controle em empresas, ele exibiu sua força na semana passada. Num dia, sacou US$ 1 bilhão e adquiriu as operações da empresa Pride, especializada em prospecção de petróleo, na América Latina. “O Brasil ficou pequeno”, disse Fersen a amigos, logo após concluir a aquisição, que foi a primeira do GP fora do País. Mas em vez de simplesmente festejar e estourar o champanhe, ele tomou um avião e seguiu para Belo Horizonte, a capital mineira, onde estava perto de fechar outro negócio: a compra da Magnesita, uma das principais fornecedoras das indústrias siderúrgicas, por R$ 1,24 bilhão. Em menos de três dias, eram duas operações que somavam R$ 3 bilhões e colocavam o GP em negócios que vêm “bombando” nos últimos anos: mineração e petróleo. Se isso não bastasse, Fersen também já controla a empresa BR Malls, que, após 19 aquisições em seis meses, quase uma por semana, se tornou a maior administradora de shoppings do País, à frente de grupos tradicionais como Iguatemi e Multiplan. Aonde ele vai parar ninguém sabe. Mas o fato é que seu faro e seu apetite parecem inesgotáveis.

 

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Fersen se tornou um dos ases do novo capitalismo brasileiro, mas poucas pessoas o conhecem a fundo, a não ser os amigos da infância carioca, com quem ele se abre. Fora desse círculo, o sócio do GP leva uma vida social espartana, vive dedicado à família e seu único vício é a leitura. Devorador de biografias empresariais, ele tem como livro de cabeceira O Último Titã, que narra a história de Percival Farquhar (1864- 1953), um empresário que, no seu tempo, foi o maior concessionário de serviços públicos no Brasil, investindo em bondes, empresas de energia e ferrovias, como a famosa “Mad Maria”, a Madeira- Mamoré. Fersen, de certa forma, segue os passos de Farquhar e o GP também colocou seu dinheiro em empresas de energia, como a Equatorial, que controla a maranhense Cemar, de ferrovias, como a ALL, e em outras concessões, como é o caso da operadora de telefonia Oi, que é a maior do País. A diferença é que, ao contrário de Farquhar, que quebrou e foi perseguido por governos, o GP só fez prosperar. Em dólar, os fundos geridos pela equipe de Fersen têm tido rentabilidade de 25% ao ano. Na terça-feira 14, ao divulgar seus resultados, o GP, que foi criado pelos lendários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, todos já fora do negócio, publicou um lucro de US$ 94,3 milhões no semestre.

 

Numa assembléia em Londres, em maio deste ano, Fersen assumiu a presidência e selou seu comando à frente de um grupo que hoje já vale US$ 1,2 bilhão

 

Os bons resultados do grupo, hoje na segunda geração, podem ser explicados por um traço de Fersen: a obsessão por eficiência. E isso, se tem sido bom para quem investe no GP, também rendeu ao empresário a fama de “carrasco” nas empresas onde imprimiu seu modelo de gestão. “Ele é um cara que jamais se intimida e que tem peito para fazer tudo aquilo que é necessário fazer”, disse à DINHEIRO um ex-sócio do GP. Um exemplo disso ocorreu no fim de 2004, quando Fersen assumiu o conselho da Telemar, que estava em processo de fusão com a Oi. Em decorrência disso, 70 gerentes e diretores seriam exonerados. Fersen não quis perder tempo e autorizou o então presidente da operadora, Ronaldo Iabrudi, a demitir todos no dia 23 de dezembro, a apenas dois dias do Natal. Foi traumático, mas é assim, fazendo o mal de uma só vez e o bem aos pedaços, como ensina Maquiavel, que Fersen trabalha. Ao que tudo indica, isso também deve acontecer na jóia mais recente da coroa. A informação ainda não é pública, mas DINHEIRO apurou que o executivo Ronaldo Iabrudi, que foi o braço direito de Fersen na ALL e demitiu milhares de pessoas por lá, será presidente da Magnesita. Sinal de que ajustes profundos – e imediatos – serão feitos numa empresa que tinha como acionistas controladores uma tradicional família mineira, os Pentagna Guimarães, e o ex-governador Newton Cardoso, do PMDB. Estima- se que “Newtão”, como é conhecido o político mineiro, tenha recebido cerca de R$ 150 milhões no negócio.

 

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Com seu jeito duro mas eficaz, Fersen conquistou a simpatia de uma série de titãs. Armínio Fraga, que criou a Gávea depois de sair do Banco Central, decidiu pegar carona no GP e irá investir R$ 254 milhões para ficar com 21% da Magnesita. “Eles têm tradição de administrar bem os negócios”, diz Armínio (leia quadro acima). Daniel Dantas, do Opportunity, foi sócio de Fersen em dois empreendimentos na admirador. “Ele sempre nos trouxe boas idéias”, diz ele. Mesmo Sérgio Andrade, de quem Fersen deve se separar na Oi, uma vez que o GP pretende sair da telefonia, é só elogios. “Embora as nossas culturas sejam distintas, nós sempre conseguimos nos harmonizar aqui dentro em busca de objetivos comuns, como o crescimento e a valorização da Oi”, diz o principal sócio da Andrade Gutierrez.

Com o dinheiro da venda das ações na Oi, que deverá ocorrer após uma reestruturação interna na empresa, estima-se que o GP poderá levantar US$ 1 bilhão. E isso deve realimentar os motores do dínamo de aquisições de Fersen. Sua arrancada começou há pouco mais de um ano, quando a empresa concluiu sua abertura de capital. À época, o GP obteve US$ 326 milhões e vendeu 74,6% das ações a investidores. Hoje, a empresa já vale, em bolsa, US$ 1,2 bilhão. No bloco de controle, Fersen se tornou o principal acionista, ao lado de Antônio Bonchristiano, de 39 anos. Para o público externo, os dois são “co-presidentes”, mas uma ata de reunião do GP ocorrida em Londres, no dia 23 de maio deste ano, às 11h, elegeu Fersen como único presidente da empresa – hoje, é ele quem manda lá dentro. Embora os dois se respeitem, não são amigos. Um não freqüenta a casa do outro. Enquanto Bonchristiano é “cerebral”, estudou filosofia em Oxford e fez teatro experimental, Fersen faz o estilo “trator”. Entrou no GP pelas mãos de Beto Sicupira, fez carreira nas Lojas Americanas e é do tipo que, se preciso for, carrega caixas de papelão nos depósitos. Na tensão interna do GP, a vitória de Fersen se deu quando a Americanas.com, pilotada por ele, comprou o Submarino, um projeto liderado por Bonchristiano. Enquanto a primeira empresa recebeu US$ 40 milhões e chegou a valer R$ 5 bilhões, a segunda teve aportes de US$ 120 milhões e seu valor chegou a R$ 2 bilhões.

 

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Fersen se tornou uma estrela de primeira grandeza, mas terá agora de provar seu talento num ambiente mais hostil. O GP fez aquisições de vulto no pico do mercado acionário e pagou preços que refletiam a situação pré-crise. “Ele certamente saberá tirar ganhos de eficiência das empresas que comprou”, disse à DINHEIRO um experiente banqueiro. “O que não sei é se ele conseguirá revender os negócios por mais do que pagou.” Além disso, os fundos de private equity internacionais, como KKR, Blakstone e Cerberus, também se tornaram alvo de um escrutínio maior, depois que compraram grandes empresas lá fora. Há uma comissão no Congresso americano que estuda formas de reduzir as vantagens fiscais que esses fundos possuem. No caso de Fersen, não é diferente. O GP é sediado nas Bermudas, um paraíso fiscal com praias tão belas quanto as de Búzios, e é negociado na bolsa brasileira através de um BDR, recibo de depósito para firmas estrangeiras. De qualquer forma, mesmo sediada no Caribe, a empresa tem ajudado a atrair bilhões de investidores internacionais para o Brasil – e isso parece ser apenas o começo.