16/12/2009 - 8:00
Ele mora em um castelo do século XVI, suas origens remontam aos reis da Irlanda na era medieval e sua família foi uma das mais poderosas da Escócia entre os séculos XVI e XVIII. Torquhil Ian Campbell, 41 anos, é o 13º duque de Argyll (lembrando que duque, na sociedade britânica, é o posto mais alto da corte após príncipes e reis) e, apesar de parecer um esforço sobre-humano tratando- se de um nobre, ele tem de fazer o que todos os plebeus fazem para viver: trabalhar.
“Tempo é dinheiro”, gosta de dizer o duque da região oeste da Escócia. A preocupação de Campbell com o dinheiro é mais do que justificável. Hoje em dia, os nobres já não gozam das regalias do passado e não podem mais se dar o luxo de ficar flanando e recebendo reverências por onde passam. “Tenho negócios nas áreas de turismo, agricultura e ainda trabalho para a indústria do uísque”, diz o duque, que também carrega o título de Hereditary Master of the Royal Household of Scotland.
Essa nomenclatura pomposa faz dele uma espécie de representante dos interesses de Sua Majestade Elizabeth II na Escócia. No tempo que sobra, ele atua como consultor da destilaria de uísque Chivas Regal. Esta última – e “pesada” – função, aliás, o trouxe recentemente ao Brasil. Ele veio para o lançamento nacional do uísque Royal Salute Stone of Destiny 38 years – um blend de 38 anos – o mais antigo disponível em escala comercial – que custará R$ 3,5 mil.
“Este uísque é como uma Ferrari”, diz Campbell. “Quando você dirige, sabe que é diferente.” A atitude, digamos assim, mais capitalista do duque tem uma explicação. Para ele, cada geração de nobres tem que se reinventar e viver de acordo com o seu tempo. Traduzindo: os nobres de hoje têm que gastar a sola do sapato para bancar a boa vida. Por esse motivo, o castelo de Inveraray, onde mora na Escócia, foi aberto à visitação e recebe cerca de 80 mil visitantes todos os anos.
“Nem todos os duques são tão ativos como eu. A maioria é muito reservada e há alguns que nem sequer trabalham”, conta o Campbell. Realmente, ele possui uma rotina “estafante”. Além de ser campeão mundial no emocionante polo sobre elefantes, vira e mexe, ele viaja mundo afora para promover uísques de altíssima qualidade. “Conheço praticamente o mundo inteiro”, diz Campbell. Voando, é bom frisar, só de primeira classe.
A vida do duque nesse árduo e competitivo mundo profissional começou quando ele era ainda jovem e partiu para a faculdade no Royal Agricultural College. Chegou até a trabalhar como executivo para uma rede de hotéis cinco-estrelas, mas encontrou sua vocação promovendo o turismo e a indústria escocesa. Em 2001, seu pai, Ian Campbell, o 12º duque de Argyll, faleceu aos 63 anos, durante uma cirurgia de coração.
Foi aí que Campbell Filho, então com 33 anos, tornou-se o duque mais jovem do Reino Unido. No ano seguinte, ele se casou com Eleanor Cadbury, da família dos fundadores da empresa de chocolates Cadbury, e teve três filhos, que hoje têm idades entre um ano e cinco anos de idade. Para a tristeza do nobre escocês, sua esposa não gosta muito dessa vida sob os holofotes. “Saber mesclar os deveres de um nobre e o cotidiano da vida moderna torna o duque um homem de sua época, alguém que não vive somente de passado familiar”, diz a consultora de etiqueta Ligia Marques.
De fato, apesar da educação e de seus modos refinados, dos olhos azuis, da pele rosada e do mais puro sotaque britânico (sem o “r” puxado que caracteriza os escoceses), o duque está em compasso com seu tempo. E espera que seu filho, quando chegar o momento, também esteja. “Ser duque é algo natural. Eu diria que é uma questão de apreciar a história, entender sua relevância e encontrar o que cabe fazer por minha geração.”
Seu tradicionalismo, porém, fica evidente quando o assunto é a independência da Escócia. “A Escócia é um país pequeno e seria difícil viver fora do Reino Unido. Estamos juntos nos bons e nos maus momentos”, diz o duque, lembrando também que a Inglaterra se beneficia com os impostos que vêm da Escócia, como os oriundos do uísque, por exemplo.