Imagens de destruição em várias partes de Londres e outras cidades inglesas chocaram o mundo, nos últimos dias. Justamente quando a cidade era celebrada pela competente preparação da Olimpíada de 2012, tornou-se subitamente alvo de vândalos que tomam as ruas e ateiam fogo em prédios para protestar, segundo alguns manifestantes ouvidos pela BBC, contra “os ricos”, mesmo que esses ricos sejam simples comerciantes de bairro. No outro extremo do mundo, estudantes tomaram as ruas em manifestações contra a piora na qualidade de ensino nas principais cidades do Chile. Enquanto isso, Bogotá, na Colômbia, surpreendeu empresários e jornalistas brasileiros que participaram de um foro bilateral de investimento, na semana passada, pela sensação de segurança que transmite nas suas ruas limpas e animadas. É claro, esse sentimento é mais forte nos bairros nobres, mas alguém se sente seguro ao andar a pé em seus equivalentes de São Paulo tarde da noite?

Os protestos no Chile podem ser uma exceção, já que a economia continua crescendo, mas Colômbia e Grã-Bretanha podem ser comparadas na relação entre insatisfação social e desempenho da economia. Enquanto no vizinho sul-americano a redução da violência ajudou a turbinar a economia, a Grã- Bretanha ainda sofre as consequências da crise financeira – que no âmbito pessoal é marcada pela perda do valor dos imóveis e o aumento do desemprego. O país tem o Estado mais enxuto e as contas públicas mais ajustadas da Europa, e uma economia dinâmica com capacidade de se recuperar rapidamente. Ainda assim, amarga uma taxa de desemprego de 7,7% e tem de carregar o peso dos excluídos, filhos e netos de imigrantes ou refugiados que nunca conseguiram se integrar de verdade. 

 

111.jpg

 

Se Londres teme que as cenas de violência atrapalhem os planos de quem pretende ver os Jogos Olímpicos no ano que vem, o Rio de Janeiro tem um desafio bem maior pela frente. Na antiga Cidade Maravilhosa, os excluídos formam um grupo mais numeroso. A cidade só se preocupou com os miseráveis quando era vítima da violência praticada por eles. Nunca com a violência praticada contra eles, especialmente pela polícia. É bem verdade que o abismo vem diminuindo com o crescimento constante da economia brasileira nos últimos anos – em junho, o desemprego na cidade baixou para 5,3%, menos do que a média nacional, de 6,2%. Mas ainda falta muito para que todos tenham oportunidade de aproveitar os frutos de uma economia estável e um país mais desenvolvido. 

 

Episódios como o sequestro de um ônibus, na terça-feira 9, escancaram a fragilidade da cidade e do País. Bandidos armados com granadas fizeram os passageiros reféns dentro do veículo. A resposta desastrada dos policiais, atirando nos pneus do veículo em movimento, levou a uma troca de tiros que resultou em seis feridos. O pior é a explicação das autoridades: admitem que erraram, mas consideram o desfecho positivo. É natural que o cidadão se sinta inseguro diante de bandidos, mas é trágico quando percebe que também não está a salvo nas mãos de quem deveria zelar por sua segurança. Durante muito tempo, a estagnação foi usada para justificar a violência. E agora? Com a economia crescendo, é preciso agregar competência a outras áreas da gestão pública se o Brasil não quiser passar vergonha em 2014 e 2016, quando os olhos do mundo estarão voltados para cá, atraídos pela Copa do Mundo e pela Olimpíada.