31/10/2017 - 8:41
Os deputados economizaram mais palavras na sessão que barrou a continuidade da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, na semana passada, do que nas ocasiões em que votaram o parecer da primeira e o pedido de impeachment de Dilma Rousseff.
Segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com base nas transcrições do Departamento de Taquigrafia da Câmara, foram, em média, 162 caracteres contra 190 caracteres da primeira denúncia e, durante a sessão do impeachment, o número atingiu 314. Além disso, a média dos discursos da base aliada de Temer foi 2,5 vezes mais curta do que a da oposição.
As palavras mais usadas pelos governistas, de acordo com as transcrições, foram “emprego”, “estabilidade” e “crescimento”. Já a oposição citou mais os termos “povo”, “quadrilha” e “corrupção”.
O formato conciso surge enquanto os índices de reprovação de Temer batem recordes. Segundo dados de setembro do Ibope, em pesquisa contratada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apenas 3% da população considera o governo Temer bom ou ótimo.
“Os deputados se viram na situação constrangedora de absolver um presidente muito impopular entre seus eleitores. Tarefa difícil, da qual queriam se desvencilhar da maneira mais rápida e discreta possível”, disse o cientista político Maurício Santoro, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
A votação pela abertura do processo de impeachment de Dilma, em contraste, foi realizada em um domingo, quando a maior parte do eleitorado acompanhava a sessão pela televisão. “Aqueles minutos de justificativa do voto eram uma rara tribuna nacional para muitos deputados, sobretudo os do chamado ‘baixo clero’. Uma oportunidade única para que eles se mostrassem para todo o Brasil”, afirmou Santoro.
Controle
As votações das denúncias contra Temer também foram marcadas pelo rigor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na hora de controlar o microfone. Diferentemente do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que presidiu a votação do impeachment em 2016, Maia cortou o som durante alguns discursos.
Para o cientista político Francisco Paulo Jamil Marques, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a atitude do parlamentar não é por acaso. “A condução de uma sessão que envolve denúncia contra o chefe do Executivo é sempre algo bem planejado. Logo, cercado de estratégias”, afirmou Marques. Cunha era da oposição e um dos articuladores do impeachment, enquanto Maia é considerado aliado de Temer.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.